Após longo período no ostracismo e de inúmeras derrotas políticas, Dilma Rousseff volta, finalmente, ao cenário internacional. Por indicação de Lula, ela acaba de ser nomeada presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que pertence ao grupo das nações emergentes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), com sede em Xangai, na China. Apesar da importância do cargo, pois o banco financia projetos de infraestrutura nos países membros, além de Bangladesh e Emirados Árabes Unidos, que se incorporaram recentemente ao órgão, a ex-presidente não terá vida fácil. Aos 75 anos, ela precisará morar em Xangai, a 18 mil quilômetros de Brasília e com um fuso horário de 11 horas de diferença, durante os próximos três anos (que é a duração do seu mandato).

Bolada

Se de um lado a distância a afasta de qualquer pretensão política, de outro ela vai poder comemorar o recebimento de uma bela remuneração.Ela terá um salário mensal de US$ 50 mil (R$ 257 mil), o que perfaz um total de R$ 3,1 milhões por ano, ou R$ 9,3 milhões até 2025. Ela assume o lugar do economista Marcos Troyjo, indicado por Guedes.

Derrotas

De qualquer forma, não deixa de ser o início de um processo de recuperação da sua imagem, abalada pelos reveses políticos. O maior deles foi sofrer o processo de impeachment em 2016, depois de ter levado o País a uma das maiores recessões da história em 2015. Ela ainda tentou voltar como candidata ao Senado por Minas em 2018, mas não se elegeu.

Campos Neto, o intocável

Geraldo Magela

Lula pode até elevar o tom dos ataques contra Roberto Campos Neto, mas dificilmente conseguirá tirá-lo do BC antes de 31 de dezembro de 2024, quando vence seu mandato. É que a decisão de removê-lo do cargo compete exclusivamente ao Senado e, por lá, ele goza de grande prestígio. Nem os partidos da base, como União Brasil, PSD e MDB (que somam 35 votos dos 81 senadores), pretendem embarcar nessa canoa.

 

Retrato falado

“Torço pelo trem-bala, apesar da grande chance de não dar certo” (Crédito: Silvia Zamboni/Valor)

O ministro dos Transportes, Renan Filho, disse à “Folha” que seria bom para o País ter um trem-bala ligando São Paulo ao Rio, por ser um transporte mais barato e rápido, mas lembra que a obra teria que ser feita toda pela iniciativa privada, já que o governo não tem recursos para isso. Segundo ele, o projeto custa R$ 50 bilhões e o Brasil investiu só R$ 5 bilhões em todo o setor de transportes em 2022. Ele espera que as novas regras fiscais ampliem recursos para sua área.

A inflação cairá?

A inflação de março só será divulgada no começo de abril, mas tudo indica que ela poderá ficar um pouquinho abaixo da de fevereiro. Mas isso não significa que o BC já pode, tecnicamente, baixar a taxa de juros. Pelo menos é o que indica o IPCA-15, a prévia da inflação oficial medida pelo IBGE. Em março, o índice fechou com alta de 0,69%, abaixo do número de fevereiro (0,76%). Em 12 meses, o IPCA-15 caiu de 5,63% para 5,36%. A desaceleração é muito pequena. Bancos estimam que a inflação oficial fique este ano entre 6% e 6,5%, embora o boletim Focus (do BC) calcule a taxa em 5,95%. O centro da meta é de 3,25%. Para 2024, a inflação deve cair para 3% ou 4%.

Juros menores

O ex-presidente do BC Gustavo Loyola disse ao “Estadão”, por exemplo, que o essencial é que as expectativas da inflação comecem a cair, mas para isso precisaria haver maior confiança no campo fiscal. Diz que se já tivéssemos o arcabouço fiscal, as taxas de juros poderiam começar a cair em agosto.

Ministro ranzinza

Rui Costa (Casa Civil) vem sendo alvo de críticas tanto por parte de seus colegas do governo como de lideranças do Congresso. Ministros de outras pastas reclamam que ele é mal-humorado e ríspido com os companheiros nas reuniões ministeriais. Já os deputados dizem que ele demora em atender pleitos da base e dá “chá de cadeira” em parlamentares.

Divulgação

Pacificação

Haddad foi um dos ministros que chegou a se indispor com o chefe da Casa Civil. Depois de ter ficado insatisfeito com as ressalvas que Costa fez ao seu projeto da âncora fiscal, o ministro da Fazenda creditou a ele o vazamento dos nomes que indicará para a direção do BC. Costa chamou Haddad para conversar e aparou arestas. A paz voltou.

O impeachment, de novo

Lula já tem seis pedidos de impeachment na Câmara. Em 100 dias, Bolsonaro teve dois. Para não banalizar o tema, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, apresentou projeto de lei para alterar a Lei de Impeachment, de 1950: só os partidos, OAB e entidades de classe podem pedir o impedimento do mandatário. Pessoas físicas, só em processos de iniciativa popular com milhares de assinaturas.

Toma lá dá cá

Alberto Fraga (PL-DF), presidente da Bancada da Bala (Crédito:Divulgação)

O que acha da posição do governo de que o armamento da população aumenta a violência?
Discordo. Tirar o direito de escolha do cidadão de comprar uma arma para ter em casa está mais para ditadura do que para um governo democrático.

A Bancada da Bala tentará reverter os decretos revogados por Lula que permitiram, no governo Bolsonaro, o crescimento desordenado das armas?
Tivemos reuniões com o ministro Flávio Dino e explicamos os pontos que nos preocupam. O ministro prometeu analisar todas as questões.

Pensa em convocar o ministro para ele explicar a política antiarmas?
Isso ainda será discutido na Comissão de Segurança Pública, mas após as conversas que tivemos com ele, os ânimos se acalmaram.

Rápidas

* Está explicado porque Bolsonaro não queria devolver a caixa de joias masculinas que a Arábia Saudita deu de presente ao governo brasileiro: só o relógio de ouro da Chopard, peça rara, valia R$ 800 mil. Foi obrigado pelo TCU a devolver tudo a uma agência da Caixa.

* Enquanto aumenta preços dos combustíveis, penalizando a população, a Petrobras reajusta os salários dos diretores da empresa em 43,88%. Para os funcionários, segundo a federação dos petroleiros, nada de ganho real.

* O PSD reuniu seus deputados federais em Aracaju na sexta-feira, 24, para discutir o projeto do novo arcabouço fiscal elaborado pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ). Ele prevê regras mais rígidas de controle das contas públicas.

* Dirigentes sindicais dizem que o governo tem sido moroso na substituição de cargos de superintendentes regionais do Ministério do Trabalho. Ainda há estados em que os chefes são bolsonaristas, como SC, MS, PB e RO.