Lula chora ao discursar sobre a fome no Brasil: ‘Multidão a quem tudo falta’

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Depois de tomar posse e discursar no Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou no parlatório para multidão de apoiadores que o aguardavam. Acompanhado da esposa, Janja, e da cadela ‘resistência’, Lula chegaram ao Palácio do Planalto e subiram a rampa onde ele recebeu a faixa presidencial.

Lula chora ao discursar sobre a fome no Brasil: 'Multidão a quem tudo falta'
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Discurso no parlatório

Visivelmente emocionado, Lula pregou o fim do “discurso de ódio” e das desigualdades presentes no País. Apesar de criticar em alguns momentos o governo passado, Lula fez questão de ressaltar que o momento é de união para poder reduzir os problemas do Brasil.
“Quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos: vou governar para 215 milhões de brasileiros e não apenas ara quem votou em mim. Olhando para nosso luminoso futuro comum e não para o retrovisor de um passado de divisão e intolerância”, começou Lula.

“A disputa eleitoral acabou. Repito o que disse após a vitória de 30 de outubro sobre a necessidade de unir o país. Não existe dois Brasis. Somos um único povo, uma única grande nação”.

Em dado momento, a emoção fez com que Lula interrompesse o discurso para ele recuperar o fôlego.

“Mais do que governar, vou cuidar com muito carinho desse país e do povo brasileiro. Esses últimos anos o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo. Há muito tempo não víamos tanto desalento, famílias inteiras dormindo ao relento, crianças pedindo esmola quando deveriam estar na escola. Trabalhadores e trabalhadoras com cartazes nos semáforos “Por favor, me ajuda”, disse Lula antes de começar a chorar.

Leia o discurso da integra:

Quero começar fazendo uma saudação especial a cada um e a cada uma de vocês. Uma forma de lembrar e retribuir o carinho e a força que recebi do povo brasileiro representado pela vigília “lula livre” nos momentos mais difíceis da minha vida.

Hoje, neste que é um dos dias mais felizes da minha vida, a saudação que eu faço a vocês não poderia ser outra, tão singela e ao mesmo tempo tão cheia de significado

Boa tarde, povo brasileiro!

Minha gratidão a vocês, que enfrentaram a violência política antes, durante e depois da campanha eleitoral, que ocuparam as redes sociais e que tomaram as ruas debaixo de sol e chuva nem que fosse para conquistar um único e precioso voto, que tiveram a coragem de vestir a nossa camisa e ao mesmo tempo agitar a bandeira do Brasil, quando uma minoria violenta e antidemocrática tentava violar nossas cores e se apropriar do verde e amarelo que pertence a todo o povo brasileiro.

A vocês que vieram de todos os cantos deste País, de perto ou de muito longe, de avião, de ônibus, de carro ou na buleia de um caminhão, de moto, bicicleta e até mesmo a pé em uma verdadeira caravana da esperança para esta festa da democracia.

Mas quero me dirigir também aos que optaram por outros candidatos, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras e não apenas para quem votou em mim. Vou governar para todos e todas, olhando para nosso luminoso futuro comum e não para o retrovisor de um passado de divisão e intolerância.

A ninguém um país em permanente pé-de-guerra ou uma família vivendo em desarmonia. É hora de reatarmos os laços com familiares e amigos, rompidos pelo discurso de ódio pela disseminação de tantas mentiras.

Chega de ódio, fake news, armas e bombas. Nosso povo quer paz para trabalhar, estudar, cuidar da família e ser feliz. A disputa eleitoral acabou. […] Não existem dois Brasis, somos um único país, um único povo, uma grande nação. Somos todos brasileiros e brasileiras e compartilhamos uma mesma virtude: nós não desistimos nunca, ainda que arranquem nossas flores – uma por uma, pétala por pétala. Nós sabemos que sempre é tempo de replantio e que a primavera há de chegar. E a primavera chegou.

A volta da fome é um crime, o mais grave de todos, cometido contra o povo brasileiro. A fome é filha de desigualdade, mãe dos grandes males que atrasam o desenvolvimento do Brasil. […] De um lado, uma pequena parcela da população tudo tem. De outro lado, uma multidão a quem tudo falta e uma classe média que vem empobrecendo ano a ano. Juntos, somos fortes.

Quando digo ‘governar’, quero dizer ‘cuidar’. Mais que governar, vou cuidar com muito carinho deste país e do povo brasileiro. Nesses últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo. Há muito tempo, não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas. Mães garimpando o lixo em busca de alimento para seus filhos, famílias inteiras dormindo ao relento – enfrentando o frio, a chuva e o medo –, crianças vendendo bala e pedindo esmola enquanto deveriam estar na escola vivendo plenamente a infância a quem têm direito, trabalhadores e trabalhadoras desempregados exibindo nos semáforos cartazes de papelão que nos envergonham a todos ‘por favor, me ajuda.

Não podemos continuar a conviver com a odiosa pressão imposta às mulheres, submetidas diariamente à violência nas ruas e dentro de suas próprias casas. É inadmissível que as mulheres continuem a receber salários inferiores dos homens quando, no exercício de uma mesma função, elas precisam conquistar cada vez mais espaço. […] As mulheres devem ser o que elas quiserem ser, devem estar onde elas quiserem estar. Por isso, estramos trazendo de volta o Ministério das Mulheres.

Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que nós vencemos a eleição. E esta será a grande marca do nosso governo. Desta luta, fundamental, surgirá um país transformado, um país grande e próspero, forte e justo, um país de todos, por todos e para todos. Um país generoso e solidário que não deixará ninguém para trás. […] Reassumo o compromisso de cuidar de todos os brasileiros e brasileiras, sobretudo aqueles que mais necessitam, e acabar outra vez com a fome neste país.