Luiz Inácio Lula da Silva participa, neste sábado (7), de uma missa em homenagem à dona Marisa Letícia, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde nasceu como político e onde está há dois dias, enquanto negocia sua entrega à Polícia Federal.

Favorito para as eleições de outubro, Lula, de 72 anos, enfrenta desde quinta-feira um mandado de prisão decretada pelo juiz Sérgio Moro para começar a cumprir uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e por lavagem de dinheiro.

Fontes próximas ao ex-presidente afirmam que poderia se entregar depois da missa, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Em Curitiba, espera por Lula uma cela de cerca de 15m2, com banheiro privativo e direito a duas horas diárias de banho de sol.

“Há conversas na Polícia com os advogados do ex-presidente”, disse à AFP o deputado Carlos Zarattini, do PT, que acompanha Lula.

Moro havia oferecido a possibilidade de que Lula se apresentasse “voluntariamente” em Curitiba até as 17h de sexta-feira, mas o prazo foi ignorado pelo ex-sindicalista, que preferiu ficar em seu “bunker”, cercado pelos milhares de militantes que manifestam seu apoio e se mantêm em vigília dia e noite.

“Não é um foragido”, explica o tribunal de Moro, já que o prazo dado ao ex-presidente Lula não era um ultimato e que o mesmo não tentou fugir.

– Recursos até o fim –

Seus advogados multiplicam até o último minuto as tentativas de evitar sua prisão, ou pelo menos que, se for inevitável, que seja breve. Na sexta-feira, apresentaram um novo recurso, desta vez ao Supremo, alegando que o tribunal de apelação que confirmou e agravou a pena em janeiro não havia examinado as últimas objeções apresentadas à sentença. Horas antes, um tribunal de terceira instância rejeitou um pedido parecido.

A defesa de Lula critica a celeridade com que Moro emitiu o mandado de prisão, menos de 20 minutos depois de ter recebido sinal verde do tribunal de apelação.

O juiz que se tornou símbolo da Operação Lava Jato rebateu esses questionamentos.

“Ele (Lula) foi condenado por lavagem de dinheiro e corrupção. É preciso executar a sentença. Simples assim. Não vejo qualquer razão específica para adiar mais”, disse Moro em entrevista concedida ontem à China Global Television Network (CGTN).

A mulher de Lula, a ex-primeira-dama Marisa Letícia, faleceu em fevereiro de 2017. Neste sábado, ela completaria 68 anos. Seu nome constava no processo que levou à condenação de Lula, como beneficiário de um apartamento oferecido por uma construtora em troca de facilidades para obter contratos com a Petrobras.

Lula sempre negou as acusações e, ao se despedir daquela que foi sua companheira por quatro décadas e com quem teve três filhos, manifestou seu desejo de que “os criminosos que levantaram leviandades contra Marisa tenham (um dia) a humildade de pedir desculpas”.

– Apoios e protestos –

O PT e outros partidos de esquerda, assim como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e outros grupos sociais e sindicais, organizaram na sexta-feira manifestações em mais de 50 cidades e bloquearam estradas em vários estados.

O epicentro da “resistência” fica em São Bernardo, onde muitos manifestantes estão decididos a defender o homem que, em seu governo, tirou milhões de pessoas da pobreza, aproveitando-se dos ventos a favor dos preços das matérias-primas e da criação de programas sociais, como o Bolsa-Família, que se tornaram modelos mundiais.

“Ficarei aqui. Não tenho medo. Meu medo é que o Brasil volte para trás com Lula preso. Eu não era nada e, graças ao Lula, eu montei uma pequena empresa. Eu lhe devo isso”, disse Sergio de Paula, que tem um negócio de transportes.

“Estamos aqui para resistir até o fim. Lula não será preso e voltará a ser presidente para ajudar o povo”, afirmou Renata Swiecik, uma caixa de 31 anos, que está desempregada e é mãe de quatro filhos.

Em Curitiba, outros protestos seguiam seu curso.

Roberto Silva, um professor de 49 anos, caminhava fantasiado de médico com um nariz de palhaço na frente da sede da Polícia Federal (PF), onde Lula estaria se tivesse aceitado o prazo de Moro.

“Estamos aqui para evitar que outro condenado se veja impossibilitado de cumprir sua pena e saia mais uma vez, fazendo a gente de palhaço”, afirmou, referindo-se a alguns casos famosos de pessoas que, depois de arrastarem seus processos por alguns anos, foram liberados por problemas de saúde.

“Lula é um símbolo muito importante da esquerda. Sou totalmente contra essa visão do mundo”, disse Igor Merchert, um empresário de 27 anos, em Curitiba.