22/11/2023 - 17:37
Quando Luiz Inácio Lula da Silva sacou da cartola o nome de José Alencar, em 2002, como seu avalista junto à nata empresarial do País, que, ao lado da Carta ao Povo Brasileiro, garantindo ao mercado que respeitaria contratos e o próprio Estado de Direito, o levou à eleição, o presidente usou e abusou dos mineiros pela primeira vez.
Quando, em 2006, cooptou um então adversário político, Aécio Neves, e formou com ele uma chapa-branca (velada, pois), apelidada Lulécio, para derrotar o também tucano e hoje – que ironia do destino, não é mesmo? – seu vice-presidente, Geraldo Alckmin, Lula usou e abusou dos mineiros pela segunda vez.
Quando, finalmente, em 2010, convenceu sua “poste” Dilma Rousseff a se declarar mineira, para vencer – “fazendo o diabo” – as eleições contra José Serra (seu adversário em 2002), Lula usou e abusou dos mineiros pela terceira vez.
OUTRA VEZ, NÃO
Em 2022, até tentou, mas sem muito sucesso, ludibriar eleitoralmente os mineiros, visitando o segundo maior colégio eleitoral do Brasil, em busca de votos, como bebuns visitam o banheiro do boteco após a quinta cerveja. Digo isso porque venceu Jair Bolsonaro por uma margem mínima de votos, ainda menor que o resultado geral final.
Mesmo assim (vencendo), uma vez na Presidência, Lula – como de praxe – jamais colocou os pés novamente em Minas, desaparecendo do estado, em que pese o recorde de viagens para um presidente no primeiro ano de mandato (19 países e 10 estados, apenas nos primeiros oito meses de governo).
Historicamente, o chefão do PT nunca moveu “uma palha” por pautas caríssimas ao estado, como a recuperação das rodovias BR 040 e BR 381, o metrô e o anel rodoviário de Belo Horizonte, a dívida bilionária do estado etc. Lula, que sempre se serviu de Minas, jamais retribuiu o afago dos mineiros.
CIDADE MARAVILHOSA
A mesma sorte, no caso, azar, não acomete, por exemplo, o Rio de Janeiro, estado palco – e protagonista – dos maiores esquemas de corrupção durante os anos de Petrolão. Lula não perde uma única oportunidade de declarar em verso, prosa e verbas, sua predileção, principalmente pela capital fluminense.
Em agosto passado, o parça de Eduardo Paes anunciou magníficos 3 bilhões de reais em recursos federais para obras de mobilidade no Rio. Este mês, contrariando seus discursos e suas promessas, o presidente determinou uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem), para o combate ao crime organizado após eventos trágicos na cidade.
Nesta quarta-feira (22), em uma troca de afagos fofos no Twitter (ou X), Lula e Paes combinaram a cessão de um imóvel federal, no Rio, à prefeitura. Logo abaixo das mensagens juvenis, o prefeito de Nova Lima (MG), João Marcelo, lembrou ao presidente de lembrar – um pouquinho que seja – de Minas Gerais.
NOVA LIMA
O jovem chefe do executivo da cidade com a maior concentração de ricos do Brasil – muito por causa, aliás, da gestão moderna e eficiente que imprime ao município – fez menção a uma área (linha férrea) totalmente abandonada pela União, mal-cuidada pela vizinhança, que faz o que pode para evitar invasões e mais degradação no local.
Os municípios de Nova Lima e Belo Horizonte têm interesse em buscar uma solução viária para o caos monumental que tomou conta do trânsito no limite das duas cidades, justamente onde se encontra tal estrada de ferro abandonada. Como o imóvel pertence à União, é necessária a desafetação da área pelo governo federal.
O presidente Lula precisaria apenas ter bons olhos, boa vontade e algum bom sentimento pelos mineiros, já que prefeituras (BH e NL) e o Ministério Público de Minas Gerais, em princípio, estão de acordo e caminham juntos em busca de uma solução para a ausência total de mobilidade – provavelmente uma via rápida, ladeada por um parque linear com o dobro da área verde atual.
Na troca fofa de mensagens que citei no título desta coluna, Lula chama o Rio de “nosso Rio”. Pois bem. Que tal, presidente, considerar Minas “nossa Minas”? Que tal considerar Belo Horizonte e Nova Lima “nossa Belo Horizonte” e “nossa Nova Lima”? Afinal, voto e dinheiro de impostos não têm regionalidade. Ou ao menos não deveria, certo, presida?