Lula /Condenado

A esquerda no Brasil sempre foi cega, inculta e mal-intencionada – e, não raras vezes, bastante oportunista. Fica então difícil saber se é por cegueira, falta de cultura ou má intenção que ela teima em transformar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em perseguido político, isso quando vivemos em plena democracia e Estado de Direito. Mais: a Lula está sendo facultado o acesso a todos os recursos jurídicos, com defesa especializada, um dos fundamentos sólidos do devido processo legal. Sobra, assim, somente o oportunismo, que quando percebido não deixa de ser ridículo e pândego. Há que ser muito Mandrake para se querer vestir Lula de perseguido ideológico, de perseguido de consciência ou de perseguido político – nem o genial Lee Falk, criador do personagem mágico lá nos idos de 1934, chegaria a tamanha ousadia de ilusionismo. O truque mais recorrente da esquerda e do PT, truque tão desgastado quanto fazer pombinhas voarem da cartola, é comparar (acredite se quiser) o ex-presidente metalúrgico-milionário ao líder mundial sul-africano Nelson Mandela. Em outras ocasiões, no balaião do PT, quem surge como elemento de comparação é o ex-líder sindical e ex-presidente da Polônia Lech Walesa. Podemos até convir que Walesa e Lula têm algo em comum. Mas, ainda assim, são trajetórias distintas, embora ambos tenham acabado às voltas com a Justiça.

Não é de hoje que Lula se vê distorcido, em sua anorexia de ética e de zelo público, nos espelhos da vaidade individual e da desmedida ambição histórica. É assim que ele sempre pleiteou um lugar no panteão em que merecidamente repousa a memória de Nelson Mandela. O julgamento do TRF-4, na quarta-feira 24, aguçou ainda mais esse cacoete da glória, e dessa vez isso aconteceu, também, por estratégia de defesa desesperada com o que é indefensável. Mandela foi um dos principais líderes mundiais na luta contra o racismo e, particularmente, no desmonte da política segregacionista de seu país, a África do Sul – no final da década de 1940, lá foi oficializada a famigerada norma social do apartheid, ou seja, brancos eram deuses, negros eram espécie inferior. Sem direito a um processo minimamente regular, Mandela foi encarcerado em 1963 (cela de 2,1 metros por 2,5 metros), e assim permaneceu por 27 anos, sem ter contra ele nem sombra de acusações de gatunagem de dinheiro mas, isso sim, por querer que aos negros fossem concedidos os mesmos direitos civis que sobravam aos brancos. Saiu da cadeia por pressão mundial em 1990 e pouco depois tornou-se presidente de seu país. Mandela foi preso porque sonhava com a igualdade entre negros e brancos. Lula está condenado porque roubou dinheiro público. Apesar dessa abissal diferença entre ambos, assim que se viu condenado, na quarta-feira, Lula teve o atrevimento de mais uma vez se comparar a Mandela.

Olhemos agora o regime militar que jogou o Brasil nas trevas do atraso e do arbítrio ao longo de duas décadas. É claro que Lula não deveria jamais ter sido encarcerado pela ditadura (que fique claro esse ponto), mas, se é para os petistas e ele próprio fazerem o cotejamento com Mandela, faz-se necessário falar de tal detenção. Citamos, pouco acima, os 27 anos que Mandela puxou de tranca. Lula ficou preso durante 31 dias (convenhamos que há diferença), em abril de 1980, devido à liderança de uma greve de operários na região do ABC paulista. Mais: quando morreu um dos filhos de Mandela (chamava-se Thembi), a resposta ao seu pedido para sair do presídio, por poucas horas, e ver o corpo, foi mandá-lo quebrar pedras num campo de concentração. Lula também estava detido no Departamento de Ordem Política e Social quando faleceu a sua mãe. O diretor do Dops, delegado Romeu Tuma, autorizou que ele velasse a genitora. Coloca-se tal comparação apenas para se verificar, nos mínimos detalhes, que Lula é Lula e Mandela é Mandela. O líder africano foi punido pela Justiça porque enfrentava os poderosos em nome da igualdade racial. Foi encarcerado porque exigia o fim do preconceito contra os negros. Já Lula está nas malhas da Justiça por corrupção e lavagem de dinheiro, tráfico de influência e obstrução de persecução penal. Nem uma escada Magirus coloca Lula à altura do Prêmio Nobel Nelson Mandela.

Não, Lula, você não é Nelson Mandela nem é Lech Walesa. Azar seu, Lula. Você é só Lula mesmo!

Os espelhos narcísicos de Lula, do qual falamos (ah espelho, espelho meu!), reflete também o polonês Lech Walesa. Lula e Walesa tem início de trajetória pública coincidente, mas é apenas o começo. Lula foi torneiro mecânico e Walesa trabalhava como mecânico de carros, ambos se tornaram fortes líderes sindicais, ambos se revelaram mestres em discursos populistas, ambos, a partir da prisão, enveredaram pela política. Agora, a grande discrepância: liderando dez milhões de trabalhadores no sindicato Solidarnosk (Solidariedade), o mais poderoso da Polônia, Walesa se opunha corajosamente ao obscurantismo e tirania do regime comunista, enquanto Lula agitava greves na direção contrária, queria jogar o Brasil no abismo do socialismo. Em palavras mais claras: Walesa sonhava com a liberdade da democracia, Lula reverenciava a ditadura do comunismo.

Walessa foi o primeiro operário em todo o mundo a se tornar presidente de um país (1990-1995), mas logo depois disso viu-se pego pela Justiça sob a acusação de ter integrado no passado as forças de espionagem do regime comunista. Foi o seu fim. Mas, ainda assim, Walesa jamais foi réu por malversação de dinheiro, jamais declarou em comício que político ladrão “é só emoção”, como Lula o fez com Sérgio Cabral. Vamos encolher, e bem encolhida, a nossa escada Magirus. Dê a ela poucos metros, e mesmo dessa forma Luila também não chega a alcançar Walesa.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Não, Lula, você não é Nelson Mandela nem é Lech Walesa.

Azar seu, Lula. Você é só Lula mesmo!

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias