Lula mostra a cara para tentar retomar rédeas e tirar Haddad da zona de fogo

De última hora, petista convocou conversa com jornalistas para tentar apaziguar crises internas e fogo cruzado de aliados

Ricardo Stuckert/Presidência da República
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu coletiva na manhã desta quinta-feira, 30, no Palácio do Planalto Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mostrou a cara de forma limpa e transparente pela primeira vez em seu terceiro mandato à frente do Palácio do Planalto. Sim, ele chegou a se reunir com jornalistas algumas vezes e deu coletivas em outras, mas, dessa vez, Lula apareceu de guarda baixa e bem preparado.

A coletiva é uma estratégia da equipe de comunicação do Planalto, liderada pelo ministro Sidônio Palmeira. Lula e Sidônio se reuniram cerca de duas horas antes da coletiva. A ideia é aproximar o petista da imprensa para apresentar o governo e, de quebra, melhorar a avaliação, que não está das melhores.

Na coletiva, Lula respondeu a todos os questionamentos, conseguiu escapar das perguntas sobre a reforma ministerial e minimizou o aumento da taxa básica de juros na primeira reunião de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central. Mas mandou recados fortes e, principalmente, se colocou na mira das críticas para defender o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Nos últimos dias, Haddad tem sido alvo de diversas críticas do mercado financeiro e de aliados do governo. Na avaliação de alguns interlocutores, a economia não está respondendo da forma esperada, e a alta inflacionária deve prejudicar a candidatura petista em 2026, seja de Lula ou do próprio Fernando Haddad.

Na entrevista, Lula aliviou a imagem de seu aliado e destacou os feitos dele à frente da pasta, dando ênfase à reforma tributária. Ele ainda exaltou outros índices da economia e a relação com o Congresso Nacional.

O petista também mandou recados, tanto na política interna quanto na externa. Lula ironizou Gilberto Kassab, presidente do PSD, que criticou o governo e disse que o petista não teria chances em 2026. O atual mandatário rebateu e disse ter ficado aliviado ao saber que a eleição é apenas no próximo ano.

A troca de farpas entre eles é uma clara disputa por maior protagonismo. Grande aliado do governo até então, Kassab busca mais espaço no Planalto, mas Lula está segurando a reforma ministerial e só deve bater o martelo nas próximas semanas. A tendência é que a legenda leve a pasta do Turismo ou a de Ciência e Tecnologia, uma das principais áreas ligadas a Gilberto Kassab.

Lula ainda tentou apaziguar as críticas de Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, que conta com um ministério no governo. Disse ser cedo para antecipar 2026, mas, internamente, as críticas de Pereira – que tem seu nome ventilado para a Esplanada – pegaram mal no Planalto.

Outro recado foi externo e direcionado ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano). Lula disse que iria taxar produtos norte-americanos caso Trump insista em dificultar a entrada de produtos brasileiros nos EUA.