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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento à imprensa nesta quinta-feira (15), em resposta à denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra ele, Marisa Letícia, Paulo Okamotto e outras quatro pessoas. Marcado para as 13h, durante reunião do diretório nacional do partido, em um hotel no centro de São Paulo, o pronunciamento começou com quase 3o minutos de atraso.

Por mais de uma vez, o ex-presidente declarou não ter nada a esconder e chegou a dizer: “Provem uma corrupção minha que irei a pé ser preso”.

Durante sua fala, Lula foi interrompido por diversas vezes por aplausos e também se emocionou, principalmente ao falar da família e ao resgatar o passado de pobreza e dificuldades.

Aos gritos de “Lula, guerreiro, do povo brasileiro”, o ex-presidente se apresentou para seu pronunciamento. “Eu não vou fazer um show de pirotecnia como fizeram ontem”, disse Lula abrindo sua fala. “Não quero me comportar como um ex-presidente da Republica, como um perseguido ou como se tivesse reivindicando um favor”.

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Lula começou resgatando sua história no sindicalismo para falar sobre a fundação do partido.  “Eu não prometi o socialismo pra ninguém. Eu não prometi acabar com a luta de classe. Eu prometi que ao final do meu mandato, que se cada brasileiro tivesse almoçando e jantando no dia, eu teria realizado a obra da minha vida”, disse se referindo ao momento em que ganhou a eleição presidencial em 2002 após 20 anos de campanha do PT. “Tenho orgulho de ter criado o mais importante partido de esquerda da América Latina” , disse.

O ex-presidente falou também dos projetos sociais do partido, especialmente da área de educação. “Em 12 anos nós colocamos mais jovens na universidade do que eles colocaram num século. O ódio deles [oposição] foi porque durante 200 anos eles não precisavam investir em educação, pois podiam ir pra fora pra estudar. (…). Quando cheguei no governo falei que ‘aqui não vai se falar de gasto quando se falar em educação. Educação é investimento. Foi aí que fizemos essa quantidade de universidade, ProUni, escolas técnicas etc”.

Segundo o Lula, os programas de inclusão e de melhoria de vida da população mais pobre despertou o ódio na oposição e que, desde 2005, que se tenta tirar o partido do poder. “Eu tenho conhecimento que meu fracasso [primeiro mandato] teria agradado ao meu adversário, mas o meu fracasso não teria despertado o ódio contra o PT”. “Eles achavam, que eu estava vencido. Teve um sociólogo que falou ‘deixa o lula sangrar, porque ele sangra e morre’. E eu fui reeleito”, ao falar de sua reeleição em 2006.

Lula ainda citou rapidamente o afastamento de Dilma Rousseff e aproveitou para agradecer o apoio dos senadores do PT e de outros. “Tiveram comportamento exemplar. Eles podem ter perdido uma causa, mas não perderam a dignidade, não perderam a vergonha”.

Ao falar da família, o ex-presidente ficou bastante emocionado e pediu respeito. “Não conheço os meninos que o fizeram [a denúncia no MP], não sei se eles tem família como eu tenho. Mas eu respeitaria mais a família deles do que eles respeitaram a minha”. E finalizou dizendo: “Só quero que sejam honestos comigo, quero que me respeitem, que respeitem a dona Marisa.” De acordo com Lula, sua vida só não é mais conhecida que a de Jesus Cristo, que também foi julgado tanto quanto ele.

Ele lembrou quando a Polícia Federal realizou uma busca e apreensão em sua casa e no Instituto Lula. “Pensam que foi fácil aguentar a PF na minha casa?”, continuou. “Invadiram a minha casa. Olharam até embaixo do colchão pra ver se eu tinha ouro de Moscou ou dinheiro. (…)Entraram na casa dos meus filhos.  Até os discursos que eu tinha escrito levaram do Instituto [Lula] e me devolveram as pastas vazias. Certamente pra me plagiar. Levaram os iPads dos meus netos. Cadê o iPad da Marisa que ela só usa o zapzap (sic) pra conversar com as amigas”.

Quase no fim de sua fala, Lula reforçou que não tem nada a esconder e que as denúncias contra ele são mentira. “A desgraça de quem conta a primeira mentira é ter que passar a vida mentindo. Eles inventaram que eu tenho coisa que eu não tenho”. Após falar sobre seu acervo, conclui: “Me dedicaram um apartamento que não tenho, me dedicaram uma chácara que não é minha, me dedicaram até de ser o comandante maior da corrupção. E eu tenho convicção de que quem mentiu está numa enrascada”.  Disse ainda que está “inteiro à disposição” do Ministério Público e da Polícia Federal.

Lula ainda falou sobre os jovens e as manifestações. “Essa fala de indignação de um ser humano que dia 27 de outubro completa 71 anos de idade. Eu não tenho tempo de parar. O país que eu sonho tá longe de ser construído. Nós subimos apenas um degrau na escala social que agora tão querendo tirar.” E ressaltou: “Não se preocupem com o Lula. Se preocupem com um monte de gente mais nova que tá aí. Essa meninada que proibiu o Alckmin de fechar as escolas. Que tá indo pra rua pra reivindicar mais educação, mais respeito. Essa meninada é o Lula multiplicado”.

Ao fim, o ex-presidente convocou os filiados a vestir a camiseta vermelha do partido, enquanto tirava o paletó e exibia uma camisa polo da cor símbolo do PT. “Quero dizer a quem não gosta do PT, quero dizer que cada petista nesse país tem que começar a andar de camisa vermelha. Esse partido tem que ter orgulho. Aos 36 anos de vida tem que ter orgulho. Porque ningém nunca fez mais do que fizemos nesse país. Nós criamos tudo que foi possível criar.”

Denúncia
A Operação Lava Jato denunciou formalmente nesta quarta-feira, 14, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-primeira dama Marisa Letícia, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, dois funcionários da empreiteira e outros dois investigados. Todos foram denunciados no caso tríplex no Guarujá (SP).

De acordo com a Lava Jato, Lula recebeu “benesses” da empreiteira OAS – uma das líderes do cartel que pagava propinas na Petrobras – em obras de reforma no apartamento 164-A do Edifício Solaris. O prédio foi construído pela Bancoop (cooperativa habitacional do sindicato dos bancários), que teve como presidente o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto – preso desde abril de 2015. O imóvel foi adquirido pela OAS e recebeu benfeitorias da empreiteira.

Na denúncia contra Lula, o Ministério Público Federal pede o confisco de R$ 87 milhões. A acusação aponta “14 conjuntos de evidências que se juntam e apontam para Lula como peça central da Lava Jato”. Segundo a denúncia, o ex-presidente poderia ter determinado a interrupção do esquema criminoso. “Essas provas demonstram que Lula era o grande general que comandou a realização e a continuidade da prática dos crimes com poderes para determinar o funcionamento e, se quisesse, para determinar sua interrupção”, disse Dallagnol, que chamou o governo Lula de governo da propinocracia. “O governo regido pelas propinas.”