Gisele Vitória e Bruna Narcizo Fotos Gabriel Chiarastelli/Ag. Istoé Muitos o chamam de autêntico. Muitos acreditam que há nele uma dose extra de bravataria. Conversar com Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e recém nomeado chefe de seleções da CBF, é ter a certeza de se entrar em campo para enfrentar um zagueiro bem preparado, do tipo que chuta de bico ou acerta uma canelada para defender sua equipe. Com ele, não adianta firula: a resposta vem certeira, sem meias palavras ? ou palavrões. Na quinta-feira 15, seu último dia como dirigente do clube paulistano, Andrés recebeu Gente diante da nova piscina do clube para falar de seu futuro. E do jeitão quase folclórico de ser, que atrai novos fãs e inimigos em igual número, pode ser notado em cada frase. Exemplo? Como só assume na Confederação em fevereiro, Andrés aproveita o tempo livre para estar com os dois filhos, Lucas, de 19 anos, e Marina, de 15. E o que mais quer fazer nesse tempo livre? ?Trepar para c…!? Ui. Ou quando perguntado sobre o seu futuro salário na CBF. ?Vou ganhar R$ 65 mil. Mas só pode publicar se você publicar o seu?, disparou para a repórter. Gente avalia que o salário da jornalista não é de interesse público e, portanto, fica o registro. Filho de um feirante, Andrés aprendeu desde cedo a suar a camisa. Acordava de madrugada todos os dias para ajudar o pai a montar a barraca nas feiras da Vila dos remédios. Sem fugir de bola dividida, Sanchez falou ainda de seu carisma, comparado até ao de Lula, e de que não pensa em entrar para a política, mas que também não recusaria um convite vindo do ex-presidente caso ele volte ao Planalto em 2014. Conta também do preconceito que sofreu pela pouca escolaridade e de seu gosto pela leitura de biografias. Entre as preferidas, a de Che Guevara e Adolf Hitler. ?Concordando ou não (com os métodos deles), tinham os seus ideais e eu acho que o homem tem que ter ideais. Contentar a todos, ninguém contenta.? Confira a entrevista na íntegra: Como será seu trabalho como diretor de seleções da CBF? Existia uma distância muito grande entre a presidência da CBF e as comissões técnicas, o cargo é um intermediário. Quero aproximar a Seleção do povo, os jogadores têm de conviver mais com a torcida. Amanhã você já é diretor de seleções da CBF… Diretor eu sou desde o dia que me convidaram, mas assumir mesmo fisicamente só em fevereiro quando acabar o meu mandato aqui. Estou indo a reuniões, mas fisicamente lá no Rio só em fevereiro. Qual vai ser o seu salário no cargo? Vou ganhar R$ 65 mil. Mas só pode publicar se você publicar o seu (risos). Como seus filhos (Lucas e Marina) reagiram com a notícia? Eles ficaram um pouco triste por um lado e contentes por outro, porque é uma missão importante para a nação brasileira e eles sabem que talvez eu tenha menos tempo ainda, mas estão crescendo, estão entendendo mais e espero que compreendam no futuro. Futebol toma muito tempo, são muitas viagens… tenho um garoto de 19 e uma menina de 15. A menina por ser mulher cobra mais. É da natureza da mulher cobrar mais, mas ela entende. É corinthiana fanática e compreende. Ela é fanática? Lógico. Eu sou cara democrático (risos), mas não muito… Ela vai aos jogos, chora, sorri, não perde os jogos em hipótese alguma… Tem todas as camisas. É uma menina que se integra bastante com o Corinthians, e acho que não é um mal, mas isso é uma coisa que o corinthiano tem que ter mais controle porque a paixão é uma coisa que às vezes você faz coisas que ninguém merece. Qual o segredo do seu sucesso com os torcedores? Meu sucesso com a Gaviões, com a Pavilhão 9 e com todas as torcidas vem da arquibancada porque eu vim de lá. Antes de ser presidente do Corinthians eu ia nas quadras, viajava nas caravanas com eles então eles sabem que eu vou errar e acertar, mas vou fazer o melhor possível. E eu sempre os respeitei bastante. São um pouco discriminados, mas eu nunca discriminei. Eu sei que tem gente boa e ruim, como é toda sociedade. Mas se até hoje está em pé é porque a maioria é gente boa. E sempre vieram me pedir, me cobrar coisas que eu disse sim e não, mas sempre pelo bem do Corinthians. Como torcedor, alguma vez deixou a emoção falar mais alto que a razão? Um monte de vezes. Por exemplo, indo contra a contratação de jogadores. Ronaldo foi emoção? Ronaldo foi razão, foi emoção, foi tudo o que você quiser dizer. O Ronaldo está acima de tudo isso aí. Às vezes o time não está bem e você vê que um jogador que você está atrás vai resolver um problema, você gasta mais, um dinheiro que você não tem, e não te resolve o problema… E a vinda do Adriano? Ficou satisfeito? Ninguém está satisfeito com o Adriano, nem ele mesmo. Infelizmente ele tem uma contusão grave e não rendeu tudo aquilo que podia. Agora, com 30 dias de férias, com certeza, no ano que vem ele vai estar melhor. Mas o grande nome do Corinthians é o próprio Corinthians. Aqui não tem maior jogador. Nem o Ronaldo foi, não vai ser nenhum outro. Nós somos uma equipe, ganhamos o campeonato por ser uma equipe fechada que cada um deu sua parte. A diferença do Adriano é que sempre jogou na Europa e na Seleção Brasileira e tem uma mídia maior que os outros. Fora isso, ele é um jogador normal, não tem regalia, não tem nada. Nesses tempos de politicamente correto, você acha que o Garrincha, por exemplo, seria um jogador discriminado pela mídia? Todos os jogadores são discriminados. Porque se você vê um jogador de vôlei, um jogador de basquete, por exemplo, fumando maconha, ah coitadinho, se perdeu, tem que se tratar. Mas se for um jogador de futebol a resposta vem: ?o que você esperava de um jogador de futebol??. É mais marginalizado. Um jogador de futebol fazer qualquer coisinha vira um escândalo. Você acha que tem preconceito contra os cartolas também? Eu mesmo por não falar o português correto, por ser um pouco mais sincero, falar o que eu penso, uma parte da mídia e da elite discrimina. Eu senti isso na pele. É triste, mas até o presidente Lula é discriminado, quem sou eu? São comentários pejorativos, de pessoas que nem te conhecem pessoalmente. É um pouco triste, mas faz parte do processo. Denúncias contra os cartolas? Há muitas insinuações, mas provar, ninguém provou nada ainda. Acho que se provar alguma coisa, tem que prender, mas se insinua muita coisa e ninguém consegue afirmar. É inacreditável. O que você gosta de fazer nas horas vagas? Trepar pra ca… (risos) E ouvir samba. Eu ouço mais em bar, restaurante, discoteca… São pessoas que são ícones na música brasileira e eu gosto de música brasileira. Samba, axé da Bahia, sou eclético nesse tipo de música. Gosto pouco de música americana. Eu leio pouco. Nos últimos anos, li muito pouco. Quando era mais jovem, lia mais. Gosto muito de autobiografias. Che Guevara, o próprio Hittler, cada um com seus débitos e méritos, mas eu gosto muito de ler sobre a vida das pessoas. O que te chamou mais a atenção nesses livros? O idealismo. Concordando ou não, eles tinham seus ideais. E eu acho que o homem tem que ter ideais. Quando você trouxe o Ronaldo, você mudou esse modelo econômico do futebol brasileiro na forma como negociar, em patrocínio e tal. Você acha que isso foi algo fundamental na permanência do Neymar, por exemplo? Ah, é diferente né? O Ronaldo é único. Acho que a vinda do Ronaldo deu mais credibilidade ao futebol brasileiro, mais moral às pessoas do futebol no Brasil que viram que tudo é possível. As pessoas estão fazendo esforço, as receitas estão aumentando em todos os clubes, mas tem que tomar cuidado senão fica igual a alguns anos atrás. Mas realmente a vinda do Ronaldo e o esquema que foi com ele deu uma luz no futebol brasileiro. E o que você acha que vai ser o futebol brasileiro daqui uns anos? Acho que o mais forte do mundo. Não só tecnicamente, que já é, mas financeiramente. Antigamente se pagava muito mais na Europa do que aqui e hoje está mais ou menos igual. Hoje não compensa tanto um jogador sair daqui porque a diferença financeira não é tão grande… Ninguém sai do Brasil para ir para a Europa por causa de cultura, para conhecer outro país, isso é balela. Os profissionais saem daqui por causa de dinheiro e hoje, graças a Deus, se o Brasil não está pagando igual, está muito próximo. O que você acha que pode fazer no cargo para ajudar o Brasil na Copa de 2014? Tem muita coisa para fazer, mas acho que o principal é aproximar a seleção do povo, da torcida. Tá muito longe. Tem que ter algumas ações para conviver mais com a torcida. Os jogadores não moram no Brasil e isso distancia um pouco. Quando acaba o jogo, cada um pega seu avião e vai para seu país de profissão. Mas como será o seu trabalho, especificamente? É diretor de futebol. Só que lá são todas as seleções, da base masculina e feminina. É muito mais trabalho porque são mais comissões técnicas, e eu vou conhecendo, mas é isso. E esse cargo foi criado para você? Não, ele já existia. Mas ficou muitos anos sem. E assim existia uma distância muito grande entre a presidência da CBF e as comissões técnicas. É um intermediário. Você chegou a conversar com o Ronaldo antes dele assumir o Comitê Organizador Local? Ele precisou de algum conselheiro para aceitar? Ele é grande suficiente e inteligente o bastante para saber o que ele quer e o que ele não quer. Ele é um cara maior de idade que sabe o que faz, sabe o nome que tem, o peso que tem, a responsabilidade que vai ter e vai desempenhar um papel muito bom. Você se casaria novamente? Se me apaixonasse novamente, sim. E como você encara essa fama de mulherengo? Eu não me apaixonei por ninguém ainda e ninguém se apaixonou por mim. Como é a sua vida hoje? Você sai bastante? Como sempre fui. Vou ao meu samba, nos meus restaurantes, nos meus botecos… Namora bastante? Nem o que preciso, nem mais do que deveria (risos) Muitas pessoas já chegaram a comparar você ao ex-presidente Lula pela capacidade de traduzir a população e tal. Como você avalia essa comparação? Me sinto honrado mas se eu tivesse 10% da capacidade dele estaria realizado. O Lula é único. O que ele te falou quando soube que você ia ser diretor da CBF? Falou para eu ter cuidado, ficar esperto, não mudar o que eu sou e o que precisar dele em opiniões é só falar. Se o Lula voltasse ao poder e te colocasse como Ministro dos Esportes, por exemplo? Eu não trabalho para isso… Mas não seria candidato a vereador, deputado, nada disso… Mas, se o Lula me pedisse alguma coisa, jamais diria não a ele. No campo político, você entraria em campo mais como um centroavante, mais determinado a marcar gols sem se preocupar muito com o resto do time, um zagueirão convicto daquele que defende o time com unhas e dentes ou um camisa 8 que articula, não aparece tanto mas é vital para ganhar um campeonato? Número 8. Porque eu acho que você tem que ouvir bastante, ter a convicção num jogo político que nem sempre você decide as coisas, que você tem que sempre ter a maioria do seu lado. E para ter maioria, você tem que se movimentar bastante. Então é melhor ser um número 8 que é o que mais se movimenta em campo. Quando você assumiu o Corinthians tinha débitos gigantescos e hoje, como você está entregando o clube? Tem 180 milhões em dívidas para entregar. Dívidas ou investimentos, o nome que quiserem dar. É como quando você compra um carro e paga três prestações. Você deve ou é investimento se for trabalhar como um táxi? É como se põe. O Corinthians hoje está com as contas controladas, não tem nada atrasado, se paga tudo quando se vence, se arrecada muito mais do que se gasta…
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