Os cem primeiros dias do governo Lula 3 foram marcados mais por acertos do que por erros, embora os malfeitos tenham provocado maior repercussão junto à opinião pública do que as coisas positivas que praticou. Seu maior equivoco, certamente, foi o de não ter se mantido de boca fechada em temas polêmicos, tanto em assuntos internos como em externos. O presidente sofreu desgastes desnecessários.

Sua gestão até que começou bem, porque ele deu início a uma missão hercúlea de recuperar o Brasil, destruído por quatro anos de bolsonarismo ignóbil. E as pessoas estavam ávidas por ver a mudança de rumo na condução do governo. Havia ficado para trás um mandatário antidemocrático, que pregava golpes de estado a todo instante, que destilava ódio e fake news, e que havia jogado na lata de lixo a boa imagem do País no exterior ao longo da história.

Portanto, era só continuar operando as indispensáveis alterações no perfil de governo e tudo caminharia bem para sacramentar o estilo de administração exigido pelo povo. Pegou bem a sua ação junto aos indígenas famintos no Território Yanomami, o seu providencial socorro aos flagelados pelas chuvas no Litoral Norte de São Paulo e ao início do projeto do novo arcabouço fiscal para mudar os parâmetros desastrosos da economia operada por Paulo Guedes.

Mas a maionese começou a desandar quando começou a achar que não devia mais nenhuma explicação a ninguém pelo fato de ter sido eleito para fazer o que bem entendesse, mesmo que os banqueiros da Faria Lima não estivessem satisfeitos. Aí começou a má fase, indispondo-se com vários atores da política nacional e internacional. Passou a se considerar semideus. Inicialmente atacou o ex-juiz Sergio Moro, dizendo que não sossegaria enquanto não “foder” com ele e, depois, disse desconfiar que o senador tivesse sido vítima do PCC, afirmando que não passava de “armação” os eventos que lavariam à tentativa de sequestro dele e de seus familiares.

O pior, contudo, ainda estava por vir. Lula perdeu o controle e parte de sua credibilidade internacional ao afirmar que tanto a Rússia quanto a Ucrânia eram responsáveis pela guerra e que os americanos e europeus deveriam parar de estimular o conflito. Ele apanhou acertadamente no mundo inteiro por causa de suas declarações infelizes. Na semana passada, em Londres, em visita à residência oficial do embaixador Fred Arruda, pude constatar que havia um grupo de senhoras à porta da embaixada com cartazes protestando contra o petista. O mesmo se repetiu em Portugal e deve acontecer por onde Lula passar. Sua incontrolável língua o prejudicou nos três primeiros meses de governo. É de se esperar que ele tenha aprendido a lição, pois andou recuando das besteiras que falou.

Lula fala muito!