A um ano para as eleições de 2026, os dois principais nomes na corrida presidencial já se movimentam para fincar suas bandeiras eleitorais e alavancar as respectivas campanhas, ainda que nos bastidores. Enquanto monitoram o adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) tentam desgastar um ao outro, no mesmo compasso em que impulsionam programas sociais e obras para emplacar seus nomes na disputa pelo Palácio do Planalto.
Discretamente, ambos já estão em pré-campanha. Eles se evitam em agendas públicas e aproveitam para partir para o ataque quando podem. O nome do governador paulista quase não sai da boca de Lula, que usa seus ministros para atacar o chefe do Palácio dos Bandeirantes publicamente ou nas redes sociais. Por sua vez, Tarcísio manda indiretas ao Planalto e tem respondido aos ataques, principalmente contra Fernando Haddad, ministro da Fazenda e um dos postulantes ao governo de São Paulo.
Enquanto lança sua artilharia, Lula tem aproveitado a boa maré para surfar na onda da recuperação de sua popularidade para emplacar projetos populares no Congresso Nacional. A estratégia tem sido dar preferência para propostas que deixem a oposição constrangida, obrigando o voto favorável. Do outro lado, Tarcísio foca no desgaste ao governo petista nos bastidores, com olho para o lançamento de programas sociais e com direito a pitadas políticas no orçamento do estado.
Para manter a popularidade em alta e embalar a reeleição, Lula tem mantido o foco no seu público: a população de baixa renda. Além de retomar sua principal bandeira de campanha, o Bolsa Família, o petista investiu em novos programas sociais para pregar seu nome no próximo pleito. Neste ano, Lula lançou o programa Gás do Povo, com investimentos médio de R$ 5,1 bilhões no ano que vem, para oferecer botijões de GLP gratuitos para pessoas registradas no Cadastro Único (CadÚnico). As redes credenciadas deverão ter o selo do programa, reforçando a campanha do petista. Outro programa que ganha mais atenção é o Pé-de-Meia, que oferece uma verba mensal para a manutenção de estudos. A medida recebeu aporte de R$ 800 milhões apenas em janeiro deste ano.

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante o lançamento do Gás do Povo, uma das apostas do petista para embalar a campanha eleitoral em 2026
O petista também catapultou investimentos no setor de infraestrutura, um dos principais motes de campanha de seu adversário. Ao retomar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Lula passou de R$ 47,1 bilhões em 2024 para R$ 77,6 bilhões em 2026 o orçamento do programa que financia obras públicas. Os dados são do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo Federal (Siop), ligado ao Ministério do Planejamento e Orçamento. O governo alavancou ainda o Minha Casa Minha Vida e prepara um novo braço do programa, que emprestará dinheiro para reformas de residências, com previsão de R$ 750 milhões em investimentos apenas neste ano.
Para além disso, Lula deve usar as pautas populistas para financiar sua campanha eleitoral no ano que vem. A principal delas é a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil a partir de 2026. O projeto já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e tende a passar pelo crivo do Senado até o começo de novembro. O projeto prevê ainda uma faixa progressiva de cobrança para quem recebe até R$ 7,3 mil por mês, taxa de investimentos acima de R$ 50 mil, além de tributar os chamados “super-ricos” que faturam mais de R$ 1,2 milhão. Para convencer o eleitorado, a campanha deve investir no argumento de que o governo petista cumpriu uma promessa feita em 2022.
Passando essa fase, o governo prepara seu próximo ataque: o projeto que põe fim à escala 6×1 de trabalho. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) está travada na Câmara, mas parlamentares governistas apontam que há chances da retomada do andamento da matéria nesta reta final de ano. O Planalto quer usar a pauta para dar sinalizações ao setor trabalhista, de quem se afastou parcialmente neste terceiro mandato, e para retomar a “essência petista”.

Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) lançou o programa SuperAção, que junta 29 programas sociais ligados ao governo; ação deve ser uma das bandeiras de campanha caso ele dispute a presidência em 2026
Enquanto o Planalto impulsiona o populismo, no Palácio dos Bandeirantes “estratégia” é o mote do momento. Tarcísio de Freitas tem articulado movimentos sem deixar rastros. Embora demonstre resistência à sua candidatura à presidência da República e aponte a vontade de manter o foco na sua reeleição em São Paulo, o governador é pressionado pela cúpula do Centrão e por banqueiros para mostrar as caras. O papel tem sido cumprido de forma discreta e por telefone. Um exemplo foi a interferência direta na derrubada da MP 1303, que previa o aumento de impostos para alavancar a arrecadação da União. Mesmo que Tarcísio negue publicamente, deputados relataram à reportagem de IstoÉ terem recebido ligações do governador e intermediários para medir a temperatura do projeto e chegaram a ouvir o pedido para deixar a proposta caducar. A articulação funcionou. O Centrão mudou de posição e impôs uma derrota acachapante ao governo Lula, que terá de redesenhar seu orçamento para fechar o ano sem déficit.
De quebra, Tarcísio já começa a esboçar suas bandeiras eleitorais, também com foco em programas sociais e obras públicas. Ex-ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro, o governador deve usar sua expertise para a campanha. Um dos investimentos é a construção do túnel Santos-Guarujá, que ficará pronto apenas em 2028. A obra é financiada com a ajuda do governo federal, mas Tarcísio quer tomar para si o protagonismo no tema. Outro movimento que se articula é o investimento na área que seu adversário domina, exatamente os programas sociais. Recentemente, o governador de São Paulo lançou o programa SuperAção, medida que unifica ações sociais ligados ao governo do Estado. Estão previstos R$ 500 milhões nessa iniciativa, mais o aporte de US$ 100 milhões bancados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Também deve entrar no foco de Tarcísio o programa Casa Paulista, de habitação popular. Ele concorre com o Minha Casa Minha Vida. A proposta é mais um braço do SuperAção. Para concorrer com Lula e avalizar as promessas, o governador precisou alavancar o orçamento para o setor. Em 2026, o investimento na Secretaria do Desenvolvimento Social do estado saltará de R$ 1,2 bilhão para R$ 1,9 bilhão, de acordo com a Lei Orçamentária Anual (LOA) enviada à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Gilberto Kassab, secretário de Governo em SP e presidente do PSD, tende a não se comprometer com as candidaturas mesmo tendo um pé em cada palácio
Kassab: a peça-chave para Lula e Tarcísio
Um dos principais nomes da política nacional, Gilberto Kassab é a peça-chave para os dois lados da moeda. Presidente do PSD, ele transita tanto pelo Bandeirantes, onde comanda a secretária de governo, quanto pelo Planalto, a quem apoia na esfera federal. Para 2026, todavia, o ex-prefeito de São Paulo pende para o governador paulista, ou até mesmo, pela independência. Seu partido tem dois pré-candidatos à presidência – Ratinho Jr e Eduardo Leite. Lançá-los pode tirar seu comprometimento com os dois nomes mais fortes na disputa.
Enquanto Lula tenta manter o PSD em sua base no governo depois das demissões de indicados de partidos do Centrão para cargos nas autarquias, em retaliação à derrota na MP 1303, Tarcísio traçou sua estratégia dando mais recursos para o ex-prefeito de São Paulo. O governador paulista resolveu aumentar o poder de Kassab e alavancou em R$ 1,4 bilhão o orçamento da secretaria comandada por ele no próximo ano. Os valores saltaram de míseros R$ 449 milhões para R$ 1,8 bilhão na previsão orçamentária. É um sinal de que deseja seu aval e apoio, seja na corrida presidencial, seja pela disputa na esfera estadual.