Lula diz que Rubio telefonou para Mauro Vieira para negociar tarifaço

Presidente afirmou ainda que ficou "surpreso" com o resultado da conversa com Trump

O secretário de Estado americano Marco Rubio nas dependências do Departamento de Estado em Washington, em 22 de maio de 2025 - AFP
O secretário de Estado americano Marco Rubio nas dependências do Departamento de Estado em Washington, em 22 de maio de 2025 Foto: AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, 9, que o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, conversou com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, na quarta-feira, 8, para tratar sobre as negociações do tarifaço imposto a produtos brasileiros pelo presidente americano, Donald Trump.

Em entrevista à Rádio Paitã, Lula afirmou ainda que ficou “surpreso” com o resultado da conversa com Trump na última segunda-feira, 6. “Ele me ligou da forma mais gentil que um ser humano pode lidar com o outro, eu tratando ele de forma civilizada e ele me tratando de forma civilizada”, afirmou o presidente.

+ Quem é Marco Rubio, ex-rival de Trump escalado para negociar com o Brasil

A ligação entre Trump e Lula na última segunda-feira marcou uma mudança de tom na retórica do presidente americano em relação ao Brasil. Antes, ele criticava duramente o governo e o Judiciário brasileiros como forma de apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Agora, afirma ver “química” na relação com Lula, descreve o diálogo como positivo e se diz disposto a manter novas conversas.

Do lado brasileiro, além de Mauro Vieira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, serão responsáveis por negociar o alívio das tarifas de 50% impostas a produtos nacionais, tentar reverter a ofensiva americana contra o Pix e a regulamentação das redes sociais. Também interessa ao governo brasileiro que a Casa Branca suspenda restrições aplicadas a autoridades, como as sanções financeiras que atingem o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

O impasse sobre até que ponto os EUA podem ceder a estas demandas recai justamente sobre Rubio, cuja escolha, natural para seu cargo, foi comemorada por bolsonaristas. Para o deputado federal Eduardo Bolsonaro, por exemplo, a presença do chefe da diplomacia americana na mesa de negociações foi um “golaço” de Trump.

Por outro lado, em diversas declarações à imprensa, o assessor especial da Presidência Celso Amorim afirmou que o perfil de Rubio não preocupa o governo e que o secretário seguirá as orientações de Trump.

Porta-voz de sanções contra o Brasil

Filho de imigrantes cubanos, Rubio é conhecido por adotar um discurso mais conservador e uma postura linha-dura nas tratativas internacionais. Desde que assumiu o cargo, equivalente ao ministro das Relações Exteriores brasileiro, ele tem sido o mais vocal membro do governo a endossar sanções contra países comandados por políticos de esquerda.

Foi o próprio Rubio, por exemplo, que anunciou Moraes e sua mulher, Viviane Barci, como alvos da Lei Magnitsky, que impôs sanções americanas ao casal. Na ocasião, ele disse que Moraes “criou um aparato de perseguição e censura que viola os direitos fundamentais brasileiros”.

Em agosto, Rubio também restringiu viagens e acusou membros do governo brasileiro de serem cúmplices de um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano” devido à implementação do programa Mais Médicos no país.

Após o julgamento que condenou Bolsonaro por golpe de Estado e outros crimes, Rubio foi às redes sociais prometer que os EUA “responderiam adequadamente” ao “caça às bruxas” contra o ex-presidente brasileiro.

* Com informações da Deutsche Welle