Não é apenas no cenário doméstico que a posse de Lula representará uma grande transformação. Do ponto de vista internacional, o petista dá um grande sinal de prestígio no exterior ao reunir mais de 50 delegações internacionais nas transmissão de faixa presidencial, o que demonstra a importância que a comunidade internacional dá à mudança política no Brasil.

Há várias razões para essa passagem de poder chamar a atenção do mundo. Em primeiro lugar, isso representa uma guinada de 180 graus na política ambiental, que é crucial para a economia global. Lula colocará o País novamente na liderança mundial no combate às mudanças climáticas. A provável confirmação de Marina Silva no ministério vai transformar o Brasil de pária em vitrine nesse tema central.

A posse de Lula também significa o triunfo da democracia sobre o novo populismo autoritário de direita. Há quatro anos, Bolsonaro foi prestigiado principalmente com a presença de Viktor Orbán, da Hungria, e pelo ministro israelense Benjamin Netanyahu. O primeiro perdeu força no panorama europeu, o segundo está voltando ao poder com uma coligação de direita ainda mais radical. Nenhum consegue influenciar a cena internacional, atualmente. Além de Bolsonaro caminhar para o ostracismo, seu principal inspirador, Donald Trump, também perde a capacidade de retornar à arena política, além de enfrentar um cerco judicial cada vez maior.

Já Lula receberá na posse o vice-presidente chinês, Wang Quishan, os presidentes de Portugal e da Alemanha e o rei espanhol, Filipe VI. Deve recepcionar no começo do mandato Emmanuel Macron, o presidente francês que pode se transformar no seu principal aliado europeu. O petista vai visitar EUA, China e Argentina até março. Deve retomar a liderança natural brasileira na América Latina, um ativo diplomático histórico que havia sido abandonado pela miopia bolsonarista.

Isso representa um alívio para o mundo, que enfrentará um 2023 conturbado pela guerra na Ucrânia, pela perda de força econômica da China e pela crise inflacionária, que pode levar a uma recessão global. Se Lula mantiver uma política externa pragmática e não ideológica, poderá transformar o Brasil em um farol para a consolidação da democracia e contra o protecionismo comercial, que ameaça o crescimento internacional e reverte os ganhos da globalização. As grandes potências enxergam esse potencial no Brasil, e Lula só tem a ganhar se ocupar esse papel de liderança. Que a posse no dia 1° também simbolize um novo curso para a diplomacia brasileira.