(Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito)

BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu nesta terça-feira o número 2 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alessandro Moretti, mas ainda resistia, segundo fontes que acompanham o tema disseram à Reuters, a trocar o diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa, com quem tem proximidade, apesar de sofrer pressão para demiti-lo.

A exoneração de Moretti foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União desta terça, assim como a nomeação de seu substituto, o cientista político Marco Aurélio Cepik, que possui estudos na área de inteligência. Segundo notícias da mídia, ele era diretor da Escola de Inteligência da Abin. Nota da Casa Civil disse apenas que ele deixaria de exercer o cargo que ocupava, sem especificá-lo.

Moretti, que é delegado da Polícia Federal, estava de férias e volta na quarta-feira a Brasília, quando deverá prestar esclarecimentos à PF sobre as acusações de que teria dificultado as investigações da própria corporação sobre o suposto monitoramento ilegal de autoridades pela Abin durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

De acordo com as fontes, a demissão foi decidida uma vez que o nome de Moretti foi citado nas investigações sobre um “possível conluio” dos investigados na operação com a atual direção da Abin.

Já a situação de Corrêa é diferente. Diretor-geral da PF durante o segundo mandato de Lula, ele é da confiança do presidente, como o próprio Lula disse em entrevista a uma rádio nesta terça.

“O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin é o companheiro que foi meu diretor-geral da Polícia Federal entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança, e por isso eu o chamei, já que eu não conhecia ninguém dentro da Abin”, afirmou.

Lula tem sofrido pressão de parlamentares e do STF para demitir Corrêa, de acordo com as fontes.

Ministros do Supremo avaliam que ficaram expostos ao serem monitorados pela Abin e que o atual governo não soube lidar com a agência, mantendo bolsonaristas nos primeiros escalões.

Uma fonte do STF avaliou que Corrêa, mesmo sem responsabilidade jurídica, tem responsabilidade política e precisa ser trocado, mas admitiu as dificuldades do presidente.

“É uma gestão de transição, ele herdou uma estrutura viciada do governo Bolsonaro, e é um órgão corporativo. Não é fácil achar um substituto”, disse.

Pelo menos dois ministros do STF foram monitorados ilegalmente pela Abin, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, responsável pelos inquéritos das milícias digitais e outros que atingem a família Bolsonaro, de acordo com fontes com conhecimento das investigações.

Por enquanto, disseram à Reuters fontes palacianas, Corrêa se mantém no cargo, inclusive pela dificuldade de se encontrar um substituto. Não há nomes com os quais o presidente se sinta confortável. Mas a saída do diretor-geral não é descartada.

A informação de que a agência também teria monitorado parlamentares de oposição durante o governo Bolsonaro fez com que o Congresso se movimentasse. Discutem-se propostas como mudanças no escopo da agência e questões de transparência, além da ampliação da atuação da Comissão Mista de Atividades de Inteligência (CCAI) para que possa supervisionar os trabalhos da agência.

Uma fonte ligada à Presidência do Senado disse, no entanto, que dificilmente ideias novas devem prosperar em curto prazo. Aperfeiçoamentos, disse, podem ser feitos com tempo, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), resiste em interferir em um problema que, por ora, é visto como do Executivo.