BRASÍLIA, 23 SET (ANSA) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu o tom contra os Estados Unidos em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, nesta terça-feira (23), e afirmou que “atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais” estão “se tornando a regra” no cenário internacional.
Sem jamais citar os EUA ou Donald Trump nominalmente, o petista falou durante cerca de 15 minutos e acenou a diversas ações praticadas pelo governo americano nos últimos meses, como o tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros e as sanções para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro de uma condenação por golpe de Estado.
“Mesmo sob ataques sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia reconquistada há 40 anos. Não há justificativa para medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossas economias”, disse Lula, que foi aplaudido ao afirmar que a “democracia e a soberania” são “inegociáveis”.
“Essa ingerência em assuntos internos conta com auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil”, destacou o presidente, acrescentando que “não há pacificação com impunidade”.
“Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito. Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas e àqueles que os apoiam”, salientou o mandatário, lembrando a sentença contra Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão.
Além disso, Lula criticou indiretamente o envio de forças militares dos EUA para a costa da Venezuela com a desculpa de combater o tráfico de drogas, que culminou em um ataque com 11 mortos a um barco supostamente usado por contrabandistas.
“Na América Latina e no Caribe, vivemos um momento de crescente polarização e instabilidade. Manter a região como zona de paz sempre foi e é nossa prioridade. Somos um continente livre de armas de destruição em massa, sem conflitos étnicos e religiosos. É preocupante a equiparação da criminalidade com o terrorismo. Usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento”, declarou.
Em seguida, defendeu que “a via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela”, que o Haiti “tem direito a um futuro livre de violência” e que é “inadmissível que Cuba seja listada como país que patrocina o terrorismo”, recebendo aplausos mais uma vez dos líderes presentes na ONU. (ANSA).