Lula critica "manobras retóricas" para justificar intervenções na América Latina

Lula critica "manobras retóricas" para justificar intervenções na América Latina

"PresençaNa Colômbia, onde participa da cúpula Celac-UE, presidente condenou o que chamou de "manobras retóricas" para interferir na América Latina. EUA dizem que militares na região estão combatendo "narcoterroristas".O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou neste domingo (09/11) o que chamou de "manobras retóricas" para "justificar intervenções ilegais na América Latina", em discurso proferido na Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE).

"A ameaça do uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano na América Latina e no Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justificar intervenções ilegais", afirmou Lula em seu pronunciamento na cidade de Santa Marta, na Colômbia. "Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz. Democracias não combatem o crime violando o direito internacional."

Embora não tenha citado especificamente o presidente americano Donald Trump, a fala de Lula foi uma alusão à mobilização militar dos Estados Unidos em zonas próximas às águas territoriais venezuelanas e aos ataques a embarcações no Caribe e no Pacífico, que já deixaram mais de 60 mortos. Washington alega agir contra "narcoterroristas" que estariam levando drogas ao seu país.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já havia avisado na quarta-feira que Lula compareceria ao evento na Colômbia em "solidariedade regional com a Venezuela".

O próprio presidente disse na terça-feira que a cúpula só faz sentido se o fórum for aproveitado para discutir a presença militar americana nas águas do Caribe.

Evento esvaziado

O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, é, junto com Lula, um dos poucos líderes de peso presentes à cúpula, que almeja projetar um novo modelo de integração num momento delicado da política internacional.

Lula é um aliado próximo do presidente colombiano Gustavo Petro e um dos interlocutores mais importantes da região com a Europa.

A cúpula é copresidida por Petro, na qualidade de anfitrião, e pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa.

Com eles estarão também os primeiros-ministros de Portugal, Luís Montenegro; da Finlândia, Petteri Orpo; da Holanda, Dick Schoof; e da Croácia, Andrej Plenkovic, pelo lado europeu.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, cancelou de última hora sua participação, assim como o presidente uruguaio, Yamandú Orsi, entre outros líderes da região. O chanceler federal alemão, Friedrich Merz, também não estará presente.

Na prática, o encontro entre os 33 países da Celac e os 27 da UE é marcado pela ausência da maioria dos líderes de ambos os lados e tem como pano de fundo as tensões entre alguns líderes latino-americanos e os Estados Unidos por causa da presença naval americana no Caribe e o afundamento de embarcações supostamente carregadas com drogas.

Petro denunciou dias antes a pressão dos EUA contra a participação na cúpula. Washington retirou a certificação da Colômbia como aliada na luta contra as drogas e impôs sanções econômicas a Petro, argumentando que ele não está fazendo o suficiente para combater o narcotráfico.

Para o cientista político afirma Alberto Rizzi, as ausências são um "claro sinal diplomático, motivado principalmente pelo desejo de evitar uma escalada de tensões" com o presidente dos EUA, Donald Trump.

Trump declarou guerra aos supostos narcotraficantes que partem em barcos de portos do Caribe e do Pacífico, a quem culpa pelo crescente consumo de drogas nos Estados Unidos. Petro critica os ataques às embarcações.

Sem grandes acordos

Sánchez não fez declarações ao chegar na sexta-feira à noite a Santa Marta, mas em Belém, onde participou da COP30, destacou que este é o momento de "construir pontes, reforçar nossa agenda bilateral com um continente que nos é muito próximo do ponto de vista cultural e histórico, e também econômico e comercial".

O premiê espanhol disse estar confiante de que em breve será possível ratificar o acordo entre a União Europeia e o Mercosul para forjar a área de livre comércio mais importante do mundo.

A cúpula está programada para ocorrer neste domingo e na segunda-feira, mas fontes oficiais disseram à agência de notícias Efe que as equipes negociadoras dos dois blocos estão procurando deixar pronta já neste domingo a Declaração de Santa Marta, com as decisões mais importantes do encontro, o que poderia levar a um término antecipado da reunião.

Especialistas não esperam grandes acordos desta cúpula, mas enfatizam que ela poderá impulsionar o muito debatido acordo comercial entre a UE e o Mercosul.

Apesar das divergências em questões como a guerra na Ucrânia, que a Celac não condenou oficialmente, a América Latina e a Europa são aliadas fundamentais na troca de tecnologias e em matérias-primas.

as (AFP, Efe, Reuters)