Lula critica ‘intervenções ilegais’ na América Latina

SÃO PAULO, 9 NOV (ANSA) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou neste domingo (9) as “intervenções ilegais” na América Latina e no Caribe e disse que não se combate o crime organizado “violando o direito internacional”.   

A declaração foi dada na abertura da 4ª Cúpula entre a União Europeia e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), em Santa Marta, na Colômbia, na esteira dos bombardeios dos Estados Unidos contra supostos barcos de narcotraficantes na região.   

“A ameaça de uso da força militar voltou a fazer parte do cotidiano da América Latina e do Caribe. Velhas manobras retóricas são recicladas para justiçar intervenções ilegais”, disse Lula, em referência velada às operações americanas na costa da Venezuela.   

“Somos uma região de paz e queremos permanecer em paz.   

Democracias não combatem o crime violando o direito internacional. A democracia também sucumbe quando o crime corrompe as instituições, esvazia os espaços públicos, destrói famílias e desestrutura negócios”, alertou o presidente.   

Segundo Lula, “não existe solução mágica para acabar com a criminalidade”. “É preciso reprimir o crime organizado e suas lideranças, estrangulando seu financiamento e rastreando e eliminando o tráfico de armas”, salientou.   

Esvaziada, a Cúpula UE-Celac conta com apenas nove chefes de Estado e de governo, incluindo Lula e o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anfitrião do encontro. Pela Europa, participam os premiês da Espanha, Pedro Sánchez, da Holanda, Dick Schoof, e de Portugal, Luís Montenegro, além do presidente do Conselho Europeu, António Costa.   

A presença rarefeita de líderes na reunião foi abordada por Lula em seu discurso, após afirmar que a América Latina e o Caribe vivem uma “profunda crise em seu projeto de integração, voltando a ser uma região balcanizada”.   

“Estamos deixando de cultivar nossa vocação de cooperação e permitindo que conflitos e disputas ideológicas se imponham.   

Como resultado, vivemos de reunião em reunião, repletas de ideias e iniciativas que muitas vezes não saem do papel. Nossas cúpulas se tornaram um ritual vazio, dos quais se ausentam os principais líderes regionais”, criticou.   

A reunião ocorre em um contexto de crescentes tensões geopolíticas, incluindo o recente envio de forças navais dos EUA para o Caribe e os bombardeios contra supostos traficantes de drogas, que resultaram em mais de 70 mortes.   

Em seu discurso na cúpula, Petro denunciou que os ataques americanos “atingiram populações de pescadores pobres” e cobrou o respeito ao direito internacional, que deve estar acima de “qualquer forma de autoritarismo, despotismo ou lógica imperial”. (ANSA).