24/09/2024 - 11:17
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mandou recados nesta terça-feira, 24, durante a abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) e fez críticas às nações. Durante sua fala, o petista afirmou haver uma onda de “desglobalização”, criticou guerras e defendeu a indicação de uma mulher para chefiar a ONU.
Gaza é um ‘pesadelo permanente’ que ameaça toda a região, afirma secretário-geral da ONU
Ao abrir a reunião, Lula afirmou que o uso da força está se tornando regra, mesmo sem o amparo do Direito Internacional. O petista ainda disse que o direito de defesa passou a ser direito de vingança, em referência ao conflito entre Israel e Palestina.
“O uso da força, sem amparo no Direito Internacional, está se tornando a regra. Presenciamos dois conflitos simultâneos com potencial de se tornarem confrontos generalizados. Na Ucrânia, é com pesar que vemos a guerra se estender sem perspectiva de paz. Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar”, afirmou.
“Em Gaza e na Cisjordânia, assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, e que agora se expande perigosamente para o Líbano. O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes, tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino. O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo”, disse Lula.
O petista cobrou o maior posicionamento das Nações sobre as emergências climáticas, citou os problemas no Brasil – como as enchentes no RS e as queimadas na Amazônia – e disse que não terceiriza os problemas de seu governo. Ele lembrou que país sediará a COP-30 em 2025 e defendeu o multilateralismo para emplacar medidas para segurar as urgências climáticas.
Lula ainda defendeu uma reforma na ONU e o nome de uma mulher para o comando da entidade. O petista diz ver uma Nações Unidades “esvaziada” e afirmou a necessidade de maior participação de países da América Latina e da África.
“Prestes a completar 80 anos, a Carta das Nações Unidas nunca passou por uma reforma abrangente. Inexiste equilíbrio de gênero no exercício das mais altas funções. O cargo de Secretário-Geral jamais foi ocupado por uma mulher”, disse Lula, que foi aplaudido.
“Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século XXI com as Nações Unidas cada vez mais esvaziada e paralisada. É hora de reagir com vigor a essa situação, restituindo à Organização as prerrogativas que decorrem da sua condição de foro universal”, completou.
Críticas à América Latina e recados ao X
Lula ainda fez críticas ao cenário atual da América Latina e disse que o continente teve uma “década perdida”. Na avaliação do petista, a combinação provoca “efeitos nefastos sobre a paisagem política”.
Sem citar nomes, Lula deu recados claros aos governos de extrema-direita. O chefe do Planalto disse que adianta recorrer aos falsos patriotas.
“Na América Latina vive-se desde 2014 uma segunda década perdida. O crescimento médio da região nesse período foi de apenas 0,9%, metade do verificado na década perdida de 1980. Essa combinação de baixo crescimento e altos níveis de desigualdade resulta em efeitos nefastos sobre a paisagem política”, disse.
“No mundo globalizado não faz sentido recorrer a falsos patriotas e isolacionistas. Tampouco há esperança no recurso a experiências ultraliberais que apenas agravam as dificuldades de um continente depauperado”.
Em frente ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, Lula ainda mandou recados ao X, plataforma suspensa no Brasil após descumprir medidas impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O petista afirmou que a liberdade é a mais atingida em um mundo sem regras.
“O futuro de nossa região passa, sobretudo, por construir um Estado sustentável, eficiente, inclusivo e que enfrenta todas as formas de discriminação. Que não se intimida ante indivíduos, corporações ou plataformas digitais que se julgam acima da lei”, afirmou.
“A liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras. Elementos essenciais da soberania incluem o direito de legislar, julgar disputas e fazer cumprir as regras dentro de seu território, incluindo o ambiente digital. O Estado que estamos construindo é sensível às necessidades dos mais vulneráveis sem abdicar de fundamentos macroeconômicos sadios”, concluiu.