O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu neste sábado, 19, no Palácio da Alvorada, com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o embaixador Mauricio Lyrio, negociador do Brasil no Brics. Preocupado com o tarifaço de 50% imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros, Lula se informou sobre o andamento das negociações.
Até agora não há sinais de que a Casa Branca vá recuar. Nos bastidores do governo, porém, a avaliação é a de que Trump usou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na ação sobre a trama golpista como pretexto para reagir ao avanço do Brics.
Nesta sexta-feira, 18, Trump repetiu a ameaça de taxar em 10% os produtos de países do bloco que são vendidos para os EUA. Disse, ainda, que o grupo “acabará muito rapidamente” caso se forme “de modo significativo”. “Nunca podemos deixar ninguém brincar conosco”, afirmou o presidente dos EUA.
A agenda de desdolarização no Brics está na mira de Trump. Embora Lula sempre defenda “uma nova moeda de comércio internacional”, o bloco não aceita a ideia. Estuda, porém, um sistema de pagamento internacional, chamado de Brics Pay, para facilitar o comércio e as transações financeiras em moedas locais.
Em conversas reservadas, ministros dizem que o discurso da defesa de Bolsonaro, com a “descabida cobrança” para que o Supremo Tribunal Federal pare o julgamento e conceda anistia aos condenados, não passa de uma desculpa.
Na manhã deste sábado, 19, Lula prestou solidariedade aos ministros do STF que tiveram os vistos revogados pelos Estados Unidos. Além de Alexandre de Moraes – relator da ação sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 –, o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, e os ministros Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Gilmar Mendes tiveram os vistos de entrada nos EUA cassados. O procurador-geral da República, Paulo Gonet – que apresentou denúncia contra Bolsonaro –, também figura nessa lista.
O anúncio da sanção foi feito nas redes sociais pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, após a decisão de Moraes, que impôs uma série de medidas restritivas a Bolsonaro, incluindo o uso da tornozeleira eletrônica. Para ministros do STF ouvidos sob reserva, a carta de Trump a Bolsonaro, na quinta-feira, 17 – dizendo que ele está recebendo “tratamento terrível” de um “sistema injusto” que o persegue – foi mais indício de que o ex-presidente preparava um plano de fuga. Nenhum deles vê chance de aprovação de um projeto de anistia pelo Congresso.
Além de conversar sobre a crise com os Estados Unidos com Vieira e Lyrio – que também é secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores –, Lula tratou da viagem ao Chile. O presidente embarca neste domingo, 20, para Santiago, onde participará, na segunda-feira, de uma reunião de alto nível sobre a defesa da democracia.