Lula cancela agendas com ministros para ir a velório de Mino Carta

Ricardo Stuckert/ PR
Lula e Mino Carta Foto: Ricardo Stuckert/ PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cancelou agendas com ministros previstas para esta terça-feira, 2, para comparecer ao velório do jornalista Mino Carta, que faleceu aos 91 anos, em São Paulo.

Segundo a Secretaria de Comunicação Social (Secom), Lula partirá para São Paulo com chegada prevista ao Aeroporto de Congonhas para as 14h30. A presença dele no velório, no Cemitério São Paulo, será às 15h15. Já o retorno para a capital federal deve ser às 18h15.

Por causa do falecimento de Mino Carta, Lula cancelou uma reunião com o ministro da Secom, Sidônio Palmeira, que deveria ocorrer às 9h, e um encontro com os ministros Camilo Santana (Educação), Esther Dweck (Gestão e Inovação) e André Fufuca (Esportes), onde seria discutida a criação da Universidade dos Esportes.

A única agenda mantida foi uma reunião de Lula com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, adiantada para as 9h.

Em publicação no X, Lula lamentou a morte de Mino Carta, afirmando que ele foi uma referência ao jornalismo brasileiro pela sua “coragem” e “espírito crítico”. O presidente anunciou ainda que irá decretar três dias de luto oficial.

“Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou”, disse Lula.

Quem foi Mino Carta

Imigrante italiano, Carta teve uma trajetória de mais de 60 anos na imprensa brasileira e participou da criação das três maiores revistas semanais do país.

No início da década de 1960, dirigiu a equipe inaugural da Quatro Rodas, especializada no mercado automotivo. Passou pelo jornal O Estado de S. Paulo e retornou ao grupo Abril para fundar a revista Veja, em 1968, liderando um projeto pioneiro de revista semanal de notícias no país, inspirado em referências americanas.

Ao lado de Domingo Alzugaray, Fabrizio Fasano e Luiz Carta, em 1976, fundou e foi o primeiro diretor de redação da IstoÉ, onde trabalhou até 1981. Sob sua direção, a revista usou brechas na censura imposta pelo regime militar, que relutantemente se abria, ao publicar reportagens que marcaram o debate público. Com o próprio Carta, foi o primeiro veículo de circulação nacional a entrevistar o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, que viria a presidir o país em três oportunidades, no ano de 1978.

O jornalista voltaria à direção da revista entre 1988 e 1993. No período, a IstoÉ publicou, na capa, a denúncia do motorista Eriberto França, que relatou como as contas do então presidente Fernando Collor eram pagas por empresas de fachada de Paulo César Farias, protagonista do escândalo que provocou o impeachment do mandatário, o primeiro da história democrática brasileira.

Em 1993, IstoÉ revelou as relações obscuras do então ministro da Economia, Elizeu Rezende, com uma grande empreiteira, o que provocou sua demissão. Para o seu lugar, Itamar Franco convocou Fernando Henrique Cardoso, responsável pela implantação do Plano Real e futuro presidente da República por dois mandatos.

Depois de deixar a redação da IstoÉ, formou uma equipe própria e lançou a Carta Capital, em agosto de 1994, primeira revista de alcance nacional a concorrer com as duas dominantes.

Em três décadas, o veículo se tornou o principal de orientação assumidamente progressista do país e tomou a frente em posição crítica à Lava Jato, antes do STF (Supremo Tribunal Federal) reconhecer irregularidades nos ritos da operação e anular centenas de processos. Desde 2024, o jornalista enfrentava problemas de saúde que o fizeram passar por diversas internações, mas manteve atuação na Carta Capital até o final da vida.