Em janeiro de 2003, ao assumir pela primeira vez a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva contava com boa aprovação popular (obteve, à época, mais de 60% dos votos válidos) e forte desconfiança dos agentes econômicos, a despeito da tal “carta aos brasileiros” em que garantia respeitar os contratos e afastava as ameaças intervencionistas feitas durante a campanha.

Eis que, 20 anos depois, o cenário praticamente se repete. Porém, hoje, o chefão petista enfrenta uma rejeição muito maior perante a sociedade (cerca de 50% dos eleitores o detestam) e um pouco menor perante o chamado “mercado”. Até porque, neste caso, todos conhecem o que é bravata e o que é verdade nos discursos de Lula. Sabendo tratar-se de sua última vez, como reagirá, é a grande questão.

Os indicativos são os piores possíveis. Em meio a 37 ministérios, empilhados uns sobre os outros, com o caixa estourado e o mundo em recessão, tudo o que Lula não encontrará será um cenário favorável à tradicional gastança populista do PT. Além disso, a disputa por sua sucessão será fratricida, já que dentro do próprio governo teremos quatro ou cinco potenciais presidenciáveis – fora uma prometida ferrenha oposição.

Reza a lenda – e a prática política – que os primeiros cem dias de governo são cruciais e que, a partir de então, tudo se dará conforme o planejado e executado, salvo situações externas imprevisíveis, como pandemia, guerra etc. O problema é que, como sabido, Lula não tem um plano de governo a ser implementado (se tem, o escondeu bem durante a campanha). Logo, a desconfiança é ainda maior.

O Congresso, de igual sorte, não lhe será um terreno fértil e colaborativo. Ao contrário. Apesar da derrocada do bolsonarismo (o mito foi desmitificado por si mesmo), a quantidade de reacionários refratários é imensa, sobretudo no Senado. Na Câmara, o “pagou-levou” é mais descarado, mas, ainda assim, o líder do mensalão e do petrolão (sim, nunca esqueceremos!) jamais terá vida fácil. Aliás, tudo mais constante, quem não terá vida fácil, mais uma vez, seremos nós.