O presidente bielorrusso foi implacável com seus críticos nesta segunda-feira (9), um ano após sua polêmica reeleição e a repressão de um grande movimento de protesto que levou milhares à prisão, ou ao exílio.
Em um encontro anual com a imprensa e com autoridades de seu gabinete, apelidado de “grande debate”, Alexander Lukashenko mais uma vez proclamou sua vitória em uma eleição “totalmente transparente” contra uma oposição que preparava um “golpe”.
“O ano não foi fácil”, disse ele, referindo-se aos protestos que, em sua opinião, representavam “uma ameaça à unidade nacional”.
“Alguns (o governo) preparavam eleições justas e honestas, outros pediam a queda das autoridades, um golpe de Estado”, insistiu, em um discurso desordenado.
Lukashenko negou que seu país esteja envolvido na morte suspeita de Vitali Shishov, um dissidente exilado que foi encontrado enforcado na Ucrânia.
“Shishov, mas quem é ele para mim, ou para Belarus? (…) Não é ninguém para nós, quem foi que o enforcou?”, disse Lukashenko durante sua coletiva de imprensa anual.
A campanha eleitoral de 2020 testemunhou uma mobilização inesperada da sociedade bielorrussa em torno de uma candidata surpresa, Svetlana Tikanovskaya. Ela substituiu seu marido preso e conseguiu unir todas as correntes da oposição.
Após a votação de 9 de agosto, porém, Lukashenko foi proclamado vencedor com mais de 80% dos votos. Este polêmico resultado gerou um movimento de protesto inédito na ex-república soviética liderada por ele desde 1994.
Tikanovskaya foi para o exílio e é recebida no exterior por vários líderes ocidentais, incluindo o americano Joe Biden, em julho.
Meses de grandes manifestações não conduziram ao diálogo com o governo, que respondeu detendo milhares de pessoas, ou mandando para o exílio as principais figuras da oposição.
Em 2021, a repressão se acelerou, apesar das crescentes sanções da União Europeia e dos Estados Unidos contra o governo.
A maioria dos meios de comunicação independentes e de ONGs foi fechada. E a maioria das companhias aéreas evita seu espaço aéreo, depois que o governo de Lukashenko foi acusado de desviar um voo comercial, em maio deste ano, para deter um dissidente.
O regime também foi acusado de querer repatriar à força uma atleta olímpica de Tóquio que havia criticado seus treinadores.
Em seu discurso, Lukashenko acusou a velocista Krystsina Tsimanouskaya de ser “controlada remotamente por seus amigos poloneses”, que lhe concederam um visto humanitário.
– “Nunca nos ajoelharemos” –
O presidente acusa seus detratores de serem cúmplices do Ocidente, que desejaria derrubá-lo para enfraquecer a Rússia e seu presidente Vladimir Putin, principal aliado de Minsk.
“Nunca nos ajoelharemos”, exclamou Lukashenko nesta segunda-feira, denunciando as sanções europeias e americanas.
Em Minsk, a contínua repressão sufocou os críticos. Agora não há vestígios das manifestações com dezenas de milhares de pessoas protestando todos os domingos há menos de um ano.
Para marcar o primeiro aniversário dos protestos, os bielorrussos protestaram no exterior, especialmente na Polônia e na Ucrânia, destino de exílio de muitos refugiados.
No domingo (8), a diplomacia da UE saudou o povo bielorrusso “que se levantou com coragem em nome do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais”.
E também denunciou “a bem orquestrada campanha de repressão e de intimidação” do governo bielorrusso, que levou “milhares de cidadãos de todas as camadas sociais a morrer em circunstâncias sombrias, serem detidos, ou forçados a deixar o país”.