Luís Otavio Santos: “A música antiga alterou nossa sensibilidade”

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Luís Otavio Santos, de 46 anos, se apresenta hoje, 27//03, às 21h, à frente da camerata Os Músicos de Capella na Sala São Paulo, programa extra da Sociedade de Cultura Artística. No programa, o oratório “Paixão Segundo São João, BWV 245”, de Johann Sebastian Bach. A orquestra conta com 23 músicos e o coro, 12, bem como um solista. Santos pretende mostrar que a obra não precisa soar pesada e solene, como tem sido executada desde o início do século 19, por influência de músicos românticos como Félix Mendelssohn.

“Será interessante mostrar a composição com uma leveza camerística”, diz Santos. “A paixão soa como uma ópera, com coros contrastantes e jogos instrumentais onde todos os músicos participam. Até o solista se integra ao todo maior do coro. Eu próprio dirijo todo o concerto da cadeira do primeiro violino, e não como maestro tradicional.”

Santos pretende oferecer uma “experiência transformadora” ao longo de duas horas de concerto. “Em comparação com a serena e longa ‘Paixão Segundo São Mateus’, em ‘São João’ Bach carrega nas harmonias dissonantes e nas tonalidades dos afetos dolorosas (dó menor e sol menor)”, afirma. “Bach se preocupava também com o efeito dos instrumentos, e especificava isso na partitura. Por exemplo, pede um oboé da caccia, mais grave, além de alaúdes e violas da gambá, instrumentos que evocavam um passado e já não eram usados na época de Bach.”

Santos tem expandido sua carreira e hoje é considerado um dos grandes músicos realizadores do Brasil. Além de dirigir vários grupos, ele é diretor artístico do Núcleo de Música Antiga da EMESP, onde leciona violino barroco. Também tem regido o que chama de “repertório tardio”, como as sinfonias de Beethoven e Mozart para orquestras sinfônicas. “Adoro mesmo é tocar e levar minha carreira”, diz. “Mas fico feliz de ter ajudado a incrementar a música histórica no Brasil. Ao longo dos tempos, a música antiga alterou nossa sensibilidade. Hoje não se ouve música como há vinte anos. Por isso, a música histórica tem um papel contestador e inovador.”