O patético desfile de tanques da Marinha na Praça dos Três Poderes (Palácio do Planalto, Congresso e STF) serviu apenas para desmoralizar ainda mais as Forças Armadas. Em primeiro lugar, porque Bolsonaro usou o evento militar para intimidar os deputados e pressioná-los a aprovar seu despropositado voto impresso. Perdeu feio. As Forças Armadas exibiram em público como se prestaram a uma manobra antidemocrática do ex-capitão.

Bolsonaro instrumentalizou os fardados para agirem em benefício de suas propostas esdrúxulas, já que mudar o sistema eleitoral não é prioridade e nem adequado. Sem contar que a Marinha foi ridicularizada, fazendo desfilar tanques velhos, obsoletos, soltando fumaça pelas ventas, sucateados, além de ter exposto o Brasil ao escárnio internacional, com jornais do mundo inteiro referindo-se às manobras como algo de uma república das bananas.

O pior é que além dos parlamentares não terem cedido à sua bizarra pressão, mostraram que o mandatário não tem maioria para fazer qualquer mudança por Proposta de Emenda Constitucional (PEC) ou até mesmo por maioria simples. Ele comprou o Centrão, mas não levou. Muitos deputados de partidos aliados votaram contra, como o PP e PL, e só não sofreu um desgaste ainda maior porque, vergonhosamente, alguns tucanos votaram com o presidente amalucado.

Além do mais, a pressão militaresca teve um efeito adverso. Os senadores ficaram perplexos e aproveitaram o clima de guerra deixado por Bolsonaro no ar para derrubarem a Lei de Segurança Nacional, que era um resquício e entulho do regime militar. E ainda deram um troco nos pretensos golpistas, já que a partir de agora será considerado criminoso quem tramar contra o Estado Democrático de Direito. Ou seja, Bolsonaro que se cuide, pois tudo o que ele tem feito nos últimos tempos é atentar contra o regime democrático e as instituições, como a Justiça Eleitoral, com xingamentos e acusações sem provas contra ministros do Tribunal Superior Eleitoral, como Luis Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Abra os olhos Bolsonaro!

Esse episódio, como um todo, só serviu para comprovar o que muitos generais de bom senso, como Santos Cruz, têm dito. Lugar de militar é nos quartéis ou nas fronteiras, combatendo a entrada de armas e drogas, além de defenderem as ameaças à segurança nacional, como o contrabando de ouro, desmatamento da Amazônia, depredação do meio ambiente, tudo o que Bolsonaro não tem feito. O caso do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, deixou bem claro que militar no governo só dá confusão. Além de ter sido um péssimo gestor, encheu o ministério de militares e agora sabemos que muitos deles se envolveram em fraudes, denúncias de corrupção na compra de vacinas superfaturadas e outras coisas mais. Se os comandantes militares tivessem juízo, se reuniriam no Alto Comando e decidiriam cumprir o Código Militar, que determina que os militares não devem ocupar cargos no governo. Lugar de militar é no quartel.