A companhia aérea Lufthansa confirmou, nesta quinta-feira (21), que está perto de um resgate pelo governo alemão graças a um plano de 9 bilhões de euros, que levará o Estado a participar significativamente de um grupo ameaçado pelo colapso do tráfego aéreo mundial.

“O projeto, que ainda não foi finalizado, prevê medidas de estabilização de até 9 bilhões de euros, incluindo 3 bilhões de euros na forma de um empréstimo” do banco público de investimento KfW, de acordo com a empresa alemã, também presente por meio de filiais na Suíça, Bélgica e Áustria.

Esse plano levaria o Fundo de Estabilidade Econômica (FSM) do governo federal, criado para amortecer as repercussões da pandemia de coronavírus, a adquirir 20% do capital da companhia, bem como títulos conversíveis em ações no valor de “5% adicionais mais uma ação”, detalhou a Lufthansa.

A conversibilidade poderia ser exercida “no caso de uma oferta pública de aquisição por parte de terceiros”, o que efetivamente daria ao governo uma minoria de bloqueio.

Se o projeto prosseguir, encerraria semanas de polêmica entre os conservadores (CDU) da chanceler Angela Merkel e seus parceiros da coalizão social-democrata (SPD).

Dentro do partido de Merkel, muitos pediram que o governo não se envolvesse tanto em um empreendimento totalmente privatizado em 1997, enquanto na esquerda, muitos veem uma oportunidade de pressionar a grande companhia aérea alemã a preservar o emprego e ser ambiciosa na redução de suas emissões de gases do efeito estufa.

Estes devem estar satisfeitos com a perspectiva de nomeação pelo governo de membros do conselho fiscal, bem como com provisões para futuros dividendos ou salários dos diretores.

Segundo o jornal Handelsblatt, seria uma questão de nomear personalidades que não seriam “políticos eleitos ou funcionários públicos”, mas sim do mundo dos negócios, como é feito com a gigante aeronáutica Airbus.

“O governo discute com a empresa e com a Comissão Europeia. Uma decisão é esperada em breve”, afirmou Merkel em entrevista coletiva em Berlim na quarta-feira sobre o plano.

Um acordo pode ser formalizado nesta quinta, após a aprovação do plano pelo conselho administrativo.

– Hemorragia –

A Lufthansa disse que convocará uma assembleia geral extraordinária para aprovar um resgate que diluirá a participação de seus atuais acionistas. A Comissão Europeia também deve concordar.

Na Bolsa de Frankfurt, os investidores receberam bem essa informação: a ação subia 6% uma hora após a abertura. Mas valia quase metade do que no início do ano e a capitalização de mercado caiu para menos de 4 bilhões de euros, tornando o grupo vulnerável a uma aquisição.

A companhia, que emprega quase 140.000 pessoas em todo o mundo, passa por uma grave crise, com cerca de 700 de suas 760 aeronaves aterradas e mais de 60% de seus funcionários em trabalho parcial.

Em abril, transportou menos de 3.000 passageiros por dia, comparado a 350.000 antes da pandemia de coronavírus.

Segundo seu CEO, Carsten Spohr, o grupo (que também inclui Austrian Airlines, Brussels Airlines, Eurowings e Swiss) está passando por uma hemorragia de “cerca de um milhão de euros em liquidez por hora. Dia e noite. Semana após semana”.

Segundo ele, a empresa emprega 10.000 pessoas a mais e corre o risco de falir se não houver injeção de liquidez.

Além disso, a filial austríaca da Lufthansa, Austrian Airlines, informou na quarta-feira que chegou a um acordo com seu pessoal de cabine sobre reduções salariais e redução de horas de trabalho.

A maioria das companhias aéreas europeias apelou às autoridades públicas por ajuda nesta pandemia. O Estado francês ajudará, assim, a companhia Air France com 7 bilhões de euros.