Por Nayara Figueiredo

SÃO PAULO (Reuters) – A JBS teve lucro líquido de 4 bilhões de reais no terceiro trimestre, queda de 47% ante igual período do ano passado, por desempenhos mais fracos principalmente nas operações de carne bovina na América do Norte, enquanto os negócios da empresa no Brasil contribuíram positivamente.

A companhia, que é a maior do mundo no setor de alimentos em receita obtida, registrou lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado de 9,54 bilhões de reais no período, 31,5% menor no comparativo anual.

A receita líquida, por sua vez, subiu 6,8% no terceiro trimestre para 98,9 bilhões de reais, impulsionada pela unidade internacional de aves PPC (+17%), JBS Australia (+20%) e Seara (+22%).

“Foi o maior faturamento em um trimestre que a gente já teve”, disse à Reuters o CEO global da empresa, Gilberto Tomazoni.

O resultado só não foi melhor porque as margens ficaram mais comprimidas em relação ao período anterior de maior oferta de bois nos Estados Unidos, o que elevou os custos da produção de carne.

No período, cerca de 72% das vendas globais da JBS foram realizadas nos mercados domésticos em que a empresa atua e 28% por meio de exportações.

Neste cenário, a JBS anunciou o pagamento de dividendos intercalares no valor de 2,2 bilhões de reais, ou 1 real por ação, a serem realizados em novembro deste ano.

Tomazoni admitiu que os resultados do terceiro trimestre tiveram um contexto desafiador, com uma “normalização” do ciclo do gado nos Estados Unidos –após um cenário de oferta mais ampla no ano passado–, aumento nos custos dos grãos e da energia que desencadearam pressões inflacionárias em regiões importantes, como a Europa, afetando o desempenho da empresa.

Ainda assim, ele avaliou o resultado como robusto, com margens “saudáveis”, graças à estratégia “multiproteína” e “multigeografia”.

NORTE vs SUL

Com base em dados do governo dos EUA, a JBS destacou que há bastante disponibilidade de gado nos Estados Unidos no curto prazo, porém uma redução do rebanho que está por vir. Com isso, os preços do boi gordo permaneceram em patamares mais elevados durante o trimestre, crescendo 15% na comparação anual.

Neste contexto, o Ebitda ajustado da JBS Beef North America, unidade de carne bovina no país, caiu 67,5% para 2,52 bilhões de reais. A margem Ebitda baixou 16,7 pontos no comparativo anual e a receita caiu 4,8%, para 29,2 bilhões de reais.

“A base comparativa estava em um patamar muito alta da sua história… é um movimento que estava sendo esperado”, disse o CEO.

Por outro lado, a JBS Brasil registrou uma receita líquida de 16,2 bilhões de reais, 5% maior que no terceiro trimestre do ano passado, como consequência dos maiores volumes vendidos no período e preço de venda mais elevado no mercado externo.

A exportação de carne bovina a partir do Brasil registrou alta de 12% na receita líquida em dólares, em função principalmente do crescimento de 4,4% no volume e de 7,3% no preço médio da proteína in natura brasileira, com China sendo o principal destino e puxando os avanços de volume e valor do produto embarcado.

O Ebitda da operação brasileira, no entanto, foi impactado pelo custo com gado vivo no trimestre e recuou 12,7%, para 825,7 milhões de reais.

SEARA

A Seara, unidade de aves e suínos no Brasil, registrou receita líquida de 11,8 bilhões de reais no trimestre, alta de 22,3%, como resultado principalmente do aumento de 20% no preço médio de venda e de 2% de crescimento do volume.

“Vemos aqui no Brasil um consumo bem sólido”, afirmou Tomazoni, citando o desemprego em patamares menores e auxílios financeiros do governo como fatores de apoio ao consumidor.

“O maior custo de produção foi compensado pelos repasses de preços, aliado a um melhor mix de mercados, canais e produtos, além do foco da gestão da companhia em eficiência operacional e inovação. Desse modo, o Ebitda ajustado atingiu 1,8 bilhão de reais, com 15,1% de margem Ebitda.”

No comparativo anual, a geração de caixa operacional medida pelo Ebitda saltou 80,9%.

Tomazoni disse que a companhia tem uma estratégia de aquisição de grãos global, aproveitando os momentos de oportunidade que ajuda a gerir os custos, embora estejam mais altos.

“Os estoques de passagem são baixos, apesar de ter, no caso do milho, uma safra excelente no Brasil… Não enxergo que ano que vem possa ter grande diferença (de custo), nem pra cima nem pra baixo”, afirmou o executivo.

Para ele, até mesmo a entrada da China como um comprador de milho no Brasil não deve trazer grandes mudanças nos fundamentos do mercado, pois “se comprar mais aqui, vai comprar menos do outro país, e os preços dos grãos são preços internacionais”.

(Reportagem de Nayara Figueiredo)

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