Afastado do elenco do Corinthians e treinando em horários alternativos no CT Joaquim Grava, o meia Luan garante que tem condições de ser reintegrado. Antes de pedir ao técnico Vanderlei Luxemburgo para treinar com os companheiros, como revelou em entrevista ao podcast do ex-atacante Denilson, o jogador de 30 anos já havia tido uma conversa parecida com Vítor Pereira no ano passado, mas sentiu-se ‘enrolado’ pelo português. Naquele momento, o meia se entendia completamente recuperado de problemas físicos e de baques em sua vida pessoal, após a morte de dois amigos.

Luan chegou ao Corinthians em 2020, ano em que perdeu um amigo que cresceu frequentando sua casa e a quem tratava como irmão. A morte ocorreu em dezembro, meses depois do falecimento de outro amigo bastante próximo. As duas perdas afetaram bruscamente o psicológico do meio-campista, que já não estava com a confiança em alta por não conseguir exibir seu melhor futebol na primeira temporada com a camisa do time para o qual torcia na infância.

“Não consegui entregar o meu melhor e isso começou a mexer com minha cabeça: ‘Estou realizando meu sonho, estou onde eu queria estar desde moleque, preciso saber o que está acontecendo. Uma parada que mexeu comigo foi a perda do meu irmão, mexeu muito com a minha cabeça. Era meu parceiro desde os 4 anos de idade. Desde que meu pai morreu, a gente fazia tudo junto. Vivia dentro de casa. Morreu em dezembro de 2020. Voltou a pandemia e ele faleceu. No meio do ano, perdi um parceiro, meu melhor amigo, e em dezembro esse meu irmão. Isso foi um choque”, disse em entrevista ao Denilson Show.

“Quando comecei a jogar bola, a gente separou, porque ele estava envolvido com umas paradas, foi preso e tudo. Ele foi ver um jogo meu depois de oito anos, em 2019, quando eu estava para vir para o Corinthians. Isso marcou muito para mim. Começou a juntar isso com ‘por que não estou conseguindo jogar?’, essa desconfiança. Tive lesões também. Pouca gente sabe que eu tive isso. Mas se você perguntar lá, todo mundo vai saber que eu não conseguia andar. Umas paradas que não eram só muscular, foi bem complicado para conseguir treinar”, completou.

Durante este período, Luan buscou ajuda psicológica para tentar voltar o foco ao futebol. “Fui buscar ajuda (psicológica) e tudo para primeiro me recuperar como ser humano. Eu consegui me recuperar e tal. Só estou com a cabeça aqui e nada vai tirar o foco”, afirmou o jogador, que também disse ter se submetido a uma série de infiltrações para cessar dores que impediam um melhor rendimento. Isso ocorreu sob o comando do técnico Sylvinho, que começava a dar oportunidades ao jogador após a inconstância durante a passagem de Vagner Mancini.

“Fiz cinco infiltrações para poder jogar. Já estava sem jogar e pensei ‘agora que estou jogando, não posso sair’. Voltei a treinar e o Fábio Santos cansava de me zoar do jeito que eu andava. Falava: ‘Você não consegue andar’. Eu estava tentando. Parava uns dez dias. Parava, voltava e treinava mesmo com dor. Ficava nisso e ia me f… mais ainda. Três meses batendo a cabeça. Achei mais fácil ficar mais tempo parado, fazendo infiltração. Voltei após um mês e pouco, fui para o banco, mas jogava um jogo ou outro. Em 2022, jogava um jogo ou outro, mas já estava bem, aí foi por opção. Então chegou o Vítor Pereira, aí eu não joguei nem um minuto.”, disse, rindo.

PEDIDOS A VÍTOR PEREIRA E LUXEMBURGO

Ao citar o treinador português, Luan contou que o procurou para pedir oportunidades de jogar, logo depois de ter recebido uma proposta do Bahia. Ele diz que chegou até a pedir dados de seu desempenho junto ao departamento de fisiologia do Corinthians para ter argumentos que atestassem boas condições de jogo.

“Fui lá na fisiologia e comecei a buscar os treinos da semana. Perguntei para os caras: ‘deixa eu ver os treinos da semana para comparar com o resto do time’. Falei ‘mano, todo treino eu sou um dos três que mais corre’, Então não era porque eu não estava correndo. Com todo respeito, eu não ficava para trás de ninguém. Ele falou que é porque eu não corria. Teve um dia que eu fui na sala e falei com ele”, disse.

“Teve uma proposta do Bahia. Eu falei: ‘não, não quero. Quero fazer dar certo aqui’. Nisso, fui na sala dele e falei o seguinte: ‘professor, tem uma proposta para eu sair fora, mas eu quero ficar aqui. Me dá uma oportunidade de jogar pelo menos 20 minutos, não estou deixando menos que ninguém, depois você faz o que quiser’. Aí ele me enrolou lá, contou uma história triste lá, disse que ia usar e tchau”, completou.

A atitude de procurar o treinador para pedir para jogar se repetiu assim que Vanderlei Luxemburgo foi contratado neste ano, após a experiência frustrada com Fernando Lázaro e a passagem relâmpago de Cuca. “Fui trocar ideia com o Vanderlei quando ele chegou e não teve muita ideia não. Só joguei o papo reto. Falei: ‘professor, não preciso contar história triste aqui não, você sabe da minha situação do jeito que tá. A única coisa que peço é para você me deixar treinar com o grupo e me dar uma oportunidade. Só falei: ‘mano, a situação está acabando comigo, só deixa eu treinar com os caras, você vai ver’.

O trecho da entrevista em que Luan fala sobre a conversa com o Luxemburgo já havia sido divulgada pelo podcast Denilson Show antes de o programa ser liberado na íntegra, nesta segunda, no YouTube. Por isso, o treinador foi questionado sobre o assunto na coletiva de imprensa após a derrota por 1 a 0 para o Red Bull Bragantino, no domingo.

“Pergunta para a torcida do Corinthians se ela quer o jogador dentro do jogo. Não cabe a mim responder. Foi antes de eu chegar, então transfere a pergunta. Ele conversou comigo, mas para ser bem claro: o torcedor do Corinthians falou que não queria o Luan porque ele não foi justo, por isso, isso e isso. Então por que você vai comprar briga por um jogador que teve problema lá atrás? Em podcast você fala o que você quiser, mas tem que fazer um questionamento maior do que isso aí” disse o técnico corintiano.