Ele determinou os caminhos que a ciência seguiria ainda no final do século 19. Domou a eletricidade, criou o modelo vigente de comunicação sem fio (wireless), as imagens de raio-X, o motor elétrico de indução e estabeleceu antes de Guglielmo Marconi os parâmetros para invenção do rádio. Foram mais de 300 as patentes registradas em seu nome. À mesma medida, lutou a vida toda contra a personalidade bipolar e o transtorno obsessivo-compulsivo. Morreu sem o devido reconhecimento em um dos muitos quartos de hotel onde residiu no final da vida. Era apaixonado por pombos, maníaco pelo número três e não se casou, sob a justificativa de que atrapalharia seu trabalho.

Esses são os dois lados daquele que é considerado, com justiça, um dos maiores gênios da humanidade: Nikola Tesla. Na biografia recém-lançada, Tesla: a vida e a loucura do gênio que iluminou o mundo, escrita por Marko Perko e Stephen M. Stahl, ambas as faces são retratadas com propriedade. Foi necessário o trabalho conjunto do jornalista Perko e do psiquiatra Stahl para dar o devido peso de genialidade e personalidade na obra e rumos de vida do engenheiro e inventor nascido no Leste Europeu, na cidade de Smiljan, hoje Croácia.

No livro, seus autores tratam desde o nascimento de Tesla, em 1856, filho de um padre ortodoxo e de uma dona de casa. Tesla sempre afirmou que sua inventividade veio da mãe, que nunca recebeu educação formal e que sozinho aprendeu a fabricar ferramentas artesanais e aparelhos domésticos. Estudiosos atribuem ao trauma de ter presenciado aos cinco anos a morte do irmão Dane, em acidente com cavalo, o gatilho para a série de perturbações que acompanharam o inventor até o final da vida. Foi com essa personalidade tão genial como conturbada que ele desembarcou em Nova York em 1884, onde foi para trabalhar na Machine Works, empresa do não menos inventivo Thomas Edison. O embate entre os dois mudou os rumos da ciência.

Edison defendia o sistema de corrente contínua de distribuição de eletricidade. Já Tesla enxergava na corrente alternada a transmissão mais eficiente . Aquela que ficou conhecida como “a Guerra das Correntes” foi vencida por Tesla e acabou determinando os rumos do mundo em sua relação com a eletricidade. Outra grande batalha no protagonismo criativo veio com a invenção do rádio. Na verdade, na emissão por sistema de rádio a longa distância. O detentor do título, o italiano Marconi, baseou seu sistema para telégrafos sem fio em diagrama criado por Tesla. Ao realizar a primeira transmissão, conquistou o título de criador do rádio e levou o Prêmio Nobel de Física para casa.

Tesla: Vida e loucura do inventor do mundo moderno são narradas em nova biografia
REVOLUÇÃO Thomas Edison: sistema de transmissão de eletricidade que mudou o mundo (Crédito:Albert Harlingue )

Meses após a morte de Tesla, a Suprema Corte dos EUA determinou que o verdadeiro inventor era justamente ele — Tesla. Isso caracteriza muito do reconhecimento tardio. Tesla só teve a devida aclamação por sua obra a partir da década de 1990. Até que há 20 anos, uma empresa que se propôs a fabricar carros elétricos na California (EUA) foi batizada em homenagem ao principal estudioso do fornecimento inteligente de energia e correntes elétricas.

A Tesla é hoje a montadora de carros mais valiosa do mundo, estimada em cerca de US$ 630 bilhões no mercado (algo como R$ 3,2 trilhões). O rosto de Nikola Tesla passou a frequentar pôsteres e camisetas, seu nome foi emprestado até por bandas de rock. Ironicamente, ganhou carona na fama de um dos personagens da tecnologia mais controversos na atualidade e também o atualmente o homem considerado o mais rico do mundo — Elon Musk. Musk, pode-se dizer, não inventou a empresa Tesla, mas passou a ser o CEO e seu principal acionista em 2004. A projeção de ambos remete à história cíclica que tanto marcou a vida quanto a personalidade de Nikola Tesla. E essa história está completa e muito bem contadas na biografia em questão.

Prevista por Tesla, invenção do celular completa meio século

Tesla: Vida e loucura do inventor do mundo moderno são narradas em nova biografia
O NÚMERO 1 Cooper: na 6ª Avenida, em Nova York, chamada provocativa (Crédito:VALERIE MACON / AFP)

Há exatos 50 anos, em 3 de abril de 1973, o então engenheiro da Motorola Martin Cooper realizou a primeira ligação de celular da história da humanidade. Da 6ª Avenida, em Nova York, o primeiro contato foi provocativo a Joel Engel, engenheiro da concorrente Bell System: “Estou ligando para você de um aparelho portátil, de mão, para saber se minha voz está clara aí do outro lado”.

O fato foi tão significativo quanto a primeira transmissão intercontinental por rádio, realizada 71 anos antes, quando o italiano Guglielmo Marconi transmitiu a letra S da Inglaterra ao continente americano.

Ambas marcam o pioneirismo de Nikola Tesla, tanto na invenção do sistema de rádio quanto nas ideias que previram comunicação sem fio e até mesmo a internet. Ainda que Tesla não pudesse imaginar que o protótipo usado por Martin Cooper seria um tijolão de quase um quilo, com bateria que se sustentava por apenas meia hora de uso e que só viria a ser comercializado 10 anos depois.