Khalil Sayegh mora nos Estados Unidos e durante vários dias aguardou com angústia por notícias de sua família, refugiada em uma igreja de Gaza para escapar da guerra entre Israel e o Hamas. Pouco antes do Natal ele foi informado sobre a morte do pai.

Na segunda-feira (18), os pais e uma irmã do homem de 29 anos encontraram refúgio na igreja católica da Sagrada Família, na Cidade de Gaza. O mesmo templo em que duas palestinas, mãe e filha, morreram no sábado passado, atingidas por tiros israelenses, segundo o Patriarcado Latino de Jerusalém.

Na quinta-feira (21), Khalil Sayegh recebeu a notícia de que o pai faleceu na igreja devido à falta de remédios e de atendimento médico, em um cenário de colapso do sistema de saúde na Faixa de Gaza, em particular no norte, uma consequência do conflito entre Israel e Hamas, como denuncia a Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Eu soube por uma pessoa próxima em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, que foi informada por um padre”, conta Sayegh por telefone. Ele não conseguiu falar diretamente com os outros parentes.

Desde o início da guerra, em 7 de outubro, é difícil obter notícias da vida na Faixa de Gaza. As telecomunicações foram cortadas em grande parte, assim como o fornecimento de energia elétrica.

“Podemos passar dias inteiros sem receber notícias. Vivemos com medo e incerteza. Não sabemos se estão vivos ou não, se passam fome ou se conseguem alimentação, se têm água”, relata Sayegh, que mora em Washington e trabalha como analista político.

Segundo o governo do movimento islamista palestino Hamas em Gaza, mais de 20.000 pessoas morreram no território na ofensiva israelense de dois meses e meio.

As forças israelenses atacaram milhares de alvos na Faixa, estabeleceram um cerco total e iniciaram uma ofensiva terrestre em resposta ao ataque surpresa do Hamas no território de Israel em 7 de outubro, quando 1.140 pessoas foram assassinadas.

Quase 85% da população de Gaza, 1,9 milhão de pessoas, foram deslocadas pelo conflito, segundo a ONU.

– “Sofrimento inimaginável” –

O papa Francisco lamentou no domingo passado os “civis indefesos” que são alvos de bombardeios e tiros, após as mortes em 16 de dezembro de Nahida e sua filha Samar, que estavam refugiadas na igreja da Sagrada Família na Cidade de Gaza. Israel afirmou que homens que trabalhavam para o Hamas estavam na área.

Outra irmã de Khalil Sayegh e vários parentes buscaram refúgio na igreja grega ortodoxa de São Porfírio, também na Cidade de Gaza, atingida por um bombardeio em 19 de outubro. Ela deu à luz a um menino, Khader, durante a trégua de uma semana que terminou no início de dezembro e representou um breve respiro à população de Gaza.

“Não vi foto, apenas sei que ele existe”, afirma Khalil Sayegh a respeito do sobrinho recém-nascido.

Autoridades cristãs de Gaza afirmam que a comunidade tem apenas mil membros, a maioria ortodoxos, neste território palestino de 2,4 milhões de habitantes

Os cristãos eram mais de 7.000 antes de 2007, quando o Hamas assumiu o poder na Faixa.

“A esperança parece distante e fora de alcance”, lamentaram os patriarcas e líderes das igrejas de Jerusalém na mensagem de Natal.

“Por mais de dois meses e meio, a violência da guerra provocou um sofrimento inimaginável para literalmente milhões de pessoas em nossa amada Terra Santa”, afirma a mensagem.

– Natal –

A cada três ou quatro dias, uma religiosa do Santo Rosário de Jerusalém consegue falar com duas irmãs de sua congregação, refugiadas na igreja da Sagrada Família em Gaza.

“Tudo que dizem é que estão bem, que precisamos rezar por elas”, conta a religiosa, que pede anonimato. “Há duas semanas que ninguém toma banho. A situação é lamentável”, acrescenta.

“Há comida, água e energia elétrica, mas apenas para alguns dias, por isso tentam economizar”, explica o padre Ibrahim Nino, do Patriarcado Latino de Jerusalém.

Apesar das dificuldades, afirma, os deslocados “celebrarão a missa de Natal”.

Em Washington, Khalil Sayegh não tem vontade de celebrar a data.

“Você pensa no Natal e lembra que sua família está passando por um momento muito difícil. Eu me sinto vazio e exausto”.

“Eu simplesmente me alegro porque Deus está entre nós”, disse. “Ele sente a dor do povo, de todos, não apenas dos cristãos, mas de todas as pessoas em Gaza que sofrem com a fome, morte e destruição”.

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