Quando tinha 14 anos, o ex-atacante Luizão foi morar debaixo da arquibancada do estádio Brinco de Ouro, casa do Guarani, em Campinas, onde se profissionalizaria pouco depois, movido pelo sonho de vingar no futebol. O resto é história, com direito a uma Copa do Mundo e muitos outros títulos na carreira. Em 2018, todo esse filme passou novamente pela cabeça do ex-goleador de Palmeiras, Corinthians, São Paulo e da seleção brasileira, mas com outro protagonista: Rocco, seu filho.

Cria da base do mesmo Palmeiras onde o pai viveu momentos gloriosos, o garoto de 13 anos viu sua rotina mudar drasticamente a partir de março: deixou os treinos no clube que frequentava desde os 7, o conforto da residência em Perdizes, bairro nobre de São Paulo onde vivia com a mãe – os pais são separados -, e partiu com Luizão rumo a Itu. Destino? O alojamento do Ituano, sua nova casa.

“Acho que ele tem de viver tudo o que eu vivi, morar em alojamento, estudar em escola estadual. Se o Rocco fica aqui, eu pagando motorista para ele ir para o treino, não vivenciar o que é ser um jogador de futebol, não vai ser jogador nunca. É como eu penso”, diz o ex-artilheiro.

Não que tenha sido uma decisão fácil. A mãe, Mariana Mesquita, com quem Luizão também tem uma filha (Yasmin, de 16), era radicalmente contra. “O Rocco teve de convencê-la”, explica Luizão, em outro momento de déjà-vu: dobrar a dona Jesuína também não foi tarefa simples na época em que ele saiu de Rubineia, no interior de São Paulo, rumo a Campinas.

“A minha mãe não queria porque meu irmão também jogava fora, minha avó tinha acabado de falecer. Botei na cabeça que queria ser jogador de futebol, fui em busca do meu sonho e sai de casa”, conta Luizão.

Convencer-se de que não seria justo privar o garoto do desejo de virar atleta profissional também ajudou o ex-jogador a se desprender do medo. Ou você acha que foi tranquilo para ele entrar no carro após largar Rocco no alojamento do Ituano?

“Foi horrível, cara! Sou apaixonado pelos meus filhos, queria estar com eles no meu colo todos os dias. Mas é o sonho dele, eu apoio. Faz parte da vida.”

Apesar da vontade de jogar futebol ser maior do que tudo, o moleque também se assustou quando se viu longe de casa, sozinho. “É uma fase difícil, querendo ou não. Mas estou encarando da melhor maneira, que é jogando bola e me divertindo, porque estou fazendo o que mais amo. É um sonho difícil que muitos jogadores já tentaram e não conseguiram. Todo jovem que sai de casa fica um pouco assustado porque você vai ficar longe da sua família, dos seus amigos. Mas cada um tem um objetivo e o meu, no momento, é ser jogador”, afirma Rocco, com uma confiança na voz até incomum para alguém tão novo.

No fim das contas, Luizão espera que o filho encare a experiência da mesma forma como ele enxerga hoje aquele período no Brinco de Ouro, iniciado no final da década de 1980, quando conviveu com outros atletas que também dariam muito o que falar, a exemplo de Amoroso, seu primeiro grande parceiro. “Foi fundamental para eu aprender a ter minhas responsabilidades desde cedo”, recorda-se.

Tem futuro? Assim como o pai, Rocco joga no ataque e, segundo Luizão, bate na bola muito melhor do que ele. Jogou salão no Palmeiras dos 7 aos 12 anos. No ano passado, iniciou a transição para o campo.

Desafiado a analisar o garoto, Luizão tenta ser o menos “coruja” e o mais crítico possível. Se é que isto é possível… “Ele joga de centroavante, sabe fazer a parede, não é burro, é inteligente.” Palavra de pai. E de ex-jogador.