27/02/2024 - 14:00
Quando os Jogos Paralímpicos de Paris 2024 se encerrarem, sua chama continuará acesa? Após as edições anteriores de Londres (2012), Rio (2016) e Tóquio (2021), o legado deixado pelo evento permitiu avanços mais ou menos significativos, mas sem representar uma revolução para as pessoas com deficiência.
Durante todas as edições anteriores, a realização do evento se traduziu em um efeito imediato no público: o interesse pelo esporte paralímpico aumentou, mas o caminho desse fenômeno não foi longo.
Dez anos depois dos Jogos de Londres 2012, frequentemente colocados como um exemplo a ser seguido, 70% das pessoas perguntadas pela associação ‘Spirit of 2012’ consideraram que o evento teve um impacto positivo nas atitudes em relação às pessoas com deficiência.
Para o presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), o brasileiro Andrew Parsons, a ‘era pós Tóquio’ merece a mesma consideração: “A maneira com que o público percebe as pessoas com deficiência mudou completamente” em um país (Japão) que o dirigente define como “muito avançado” em relação à acessibilidade nos transportes.
No Brasil, embora o instituto de pesquisas Esentia Inteligência classifique os Jogos Paralímpicos de 2016 como “momento chave”, o impacto é considerado menor.
As mudanças mais notáveis nas populações e que afetam a vida cotidiana acontecem quando políticas públicas inclusivas acompanham os Jogos Paralímpicos. Um dos exemplos mais claros é o da inclusão trabalhista na Grã-Bretanha, onde o número de pessoas com deficiência que exercem regularmente seu trabalho aumentou em um milhão em relação ao de antes dos Jogos do Rio 2016, segundo dados do IPC.
O efeito é considerado mais efêmero no Japão, onde o número de pessoas com deficiência que praticam regularmente o esporte teve um leve aumento no ano dos Jogos (2021), para depois cair em 2022.
Infraestruturas, transportes, reformas condicionadas… Embora haja avanços materiais relevantes, os atores do esporte paralímpico ressaltam que ainda existem grandes problemas a serem solucionados.
O IPC coloca o Japão como exemplo a seguir em relação aos transportes. Segundo Andrew Parsons, “em termos de acessibilidade física, suas normas já estavam muito avançadas, passando de 97% dos transportes acessíveis para 100%”.
Mas as instalações esportivas ainda têm problemas para serem acessíveis a todos, segundo um grupo japonês especializado no assunto: “Ao invés de promover infraestruturas exclusivamente ou prioritariamente reservadas a pessoas com deficiência, acreditamos que é melhor que os equipamentos esportivos locais sejam mais acessíveis para todos”.
O Brasil, depois dos Jogos de 2016, optou pela centralização, com a construção do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro em São Paulo, onde “1.800 crianças de todo o Brasil competiam no final de 2023”.
Tanto em Londres, como no Rio e em Tóquio, vozes ressaltam que ainda há um caminho a percorrer, apesar do legado Paralímpico. Para Andrew Parsons, os Jogos não fazem milagres, mas servem como “catalizador”.
Para Yohansson Nascimento, vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), o maior desafio do país é “fazer com que o esporte [paralímpico] alcance todas as cidades”.
“Tenho certeza de que muitas localidades as pessoas e crianças com deficiência nem sabem que existe o esporte paralímpico”, explica Nascimento à AFP. Ele espera que o CPB consiga mostrar às pessoas com deficiência possam ser “cidadãos mediante o esporte”.
Por parte de Tóquio, espera-se alcançar uma taxa de participação de 50% no paraesporte até 2030. Em março de 2023, a capital japonesa abriu o Tokyo Parasports Training Center e, além disso, a cidade investe no e-Sport para “dar oportunidades às pessoas com deficiência”.
Andrew Parsons considera que “cada país tem suas próprias necessidades” referentes ao legado dos Jogos. “A próxima etapa é ter um legado em nível mundial”, almeja.
“Aconteça o que acontecer na França, em Paris, no campo da educação, saúde e meio ambiente, o legado dever ser deixado em nível mundial”, ressalta.
Para Sandrine Martinet, parajudoca francesa e porta-bandeira da França nos Jogos Paralímpicos de Tóquio em 2021, seu país “terá perdido a luta se depois do Jogos não se falar mais” sobre o tema.
“Deve ser o início de uma história”, concluiu Martinet.
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