O governo britânico anunciou nesta quinta-feira que irá suspender a entrega à Arábia Saudita de novas licenças de armas que possam ser usadas no conflito no Iêmen, após uma decisão judicial que chamou o Executivo a reconsiderar suas práticas.

A Arábia Saudita intervém militarmente no vizinho Iêmen desde 2015, liderando uma coalizão regional de apoio às forças pró-governo contra os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã.

O conflito já deixou dezenas de milhares de mortos, a maioria civis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Cerca de 3,3 milhões de pessoas continuam refugiadas, e 24,1 milhões (mais de dois terços da população) necessitam de assistência, afirma a ONU, classificando esta crise humanitária como a pior do mundo.

Organizações de defesa dos direitos humanos denunciam a venda de armas por fabricantes estrangeiros como uma violação do direito humanitário internacional.

Respondendo a um recurso da ONG Campaign Against Arms Trade (CAAT), o Tribunal de Apelações de Londres considerou hoje que o Executivo britânico “não avaliou se a coalizão liderada pela Arábia Saudita cometeu violações do direito humanitário internacional no passado, durante o conflito no Iêmen”.

Esta decisão “não significa que as licenças para exportar armas à Arábia Saudita devam ser suspensas imediatamente”, assinalou o juiz Terence Etherton, que pediu ao governo britânico que “reconsidere suas práticas”.

“Não estamos de acordo com o veredito, e pediremos autorização para recorrer”, afirmou o ministro do Comércio Internacional, Liam Fox, ante o Parlamento britânico. “Enquanto isso, não concederemos novas licenças (venda de armas) à Arábia Saudita e a seus sócios na coalizão que possam ser usadas no conflito no Iêmen”, assinalou.

– Arábia Saudita, um importante sócio comercial –

O vice-chanceler saudita, Adel al-Jubeir, reagiu durante entrevista coletiva em Londres, aonde faz uma visita, afirmando que “esta decisão da Justiça tem mais a ver com o procedimento do que com a substância”, e que “o governo britânico terá que fazer as mudanças necessárias” para prosseguir com seu comércio de armas.

Al-Jubeir assinalou que interromper as vendas de armas para a Arábia Saudita “beneficiará apenas o Irã, país com um comportamento agressivo”.

No fim de março, um dos grandes sócios europeus do Reino Unido, a Alemanha, prorrogou por seis meses, até 30 de setembro, sua decisão de congelar as vendas de armamentos a Riad, apesar da pressão de britânicos e franceses para que levantasse esta moratória, decidida em outubro de 2018, após o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi.

Em parte como consequência desta decisão, o consórcio aeroespacial europeu Airbus – do qual participam França, Alemanha, Espanha e Reino Unido – viu seu lucro líquido cair no primeiro trimestre, com o “impacto negativo induzido pela suspensão prolongada das licenças de exportação de materiais de defesa para a Arábia Saudita pelo governo alemão”.

Em setembro passado, o governo espanhol do socialista Pedro Sánchez cancelou a entrega de 400 bombas guiadas a laser para a Arábia Saudita. No entanto, depois, seu Executivo decidiu seguir adiante com um contrato de 1,8 bilhão de euros com Riad para fornecer à Arábia Saudita cinco navios de guerra fabricados em seus estaleiros na Andaluzia, região fortemente golpeada pelo desemprego.

Mais tarde, em dezembro, seu Executivo aprovou um contrato com Riad de 4,3 bilhões de euros até 2032 para a fabricação de cinco fragatas na região da Galícia.