Reino Unido e União Europeia fizeram apelos mútuos para que se consiga alcançar um “compromisso” antes do início, nesta segunda-feira (7), das negociações sobre o Brexit, nas quais o governo britânico poderá flexibilizar sua posição sobre os pontos “problemáticos” do plano de Boris Johnson.

Apresentado por Johnson na última quarta-feira como um “compromisso justo e razoável”, o plano do Brexit do primeiro-ministro britânico tem como objetivo pôr fim ao desafio representado pela fronteira irlandesa.

Entre os pontos sensíveis do projeto do premiê, estão a questão dos controles aduaneiros entre a província britânica da Irlanda do Norte e sua vizinha República da Irlanda (membro da UE) após o Brexit, assim como o direito de veto que Londres deseja conceder à assembleia e ao Executivo da Irlanda do Norte.

Boris Johnson considera que fez sua parte. Em uma carta publicada neste domingo (6) pelo “Sunday Express” e por “The Sun”, dois jornais pró-Brexit, o dirigente conservador afirma ter assumido “compromissos” e pede à UE que faça o mesmo.

“Digo aos nossos amigos europeus que aproveitem a oportunidade que nossas novas propostas oferecem. Vamos à mesa de negociações com um espírito de compromisso e cooperação. E façamos um Brexit que funcione para ambas as partes”, escreve Boris Johnson.

Os europeus veem o projeto com ceticismo e defendem que é preciso voltar a trabalhar nele. Bruxelas insiste em que Londres apresente novas propostas.

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O negociador-chefe do Brexit na UE, Michel Barnier, declarou ao jornal francês “Le Monde” que um acordo é “muito difícil”, mas continua sendo “possível”. Se o governo britânico não “voltar com novas propostas sobre dois problemas graves que lhes apontamos, não vejo como podemos avançar”, afirma.

– ‘Flexibilidade’ e ‘criatividade’

O ministro britânico encarregado das negociações do Brexit se mostrou aberto, neste domingo, a abordar os pontos da questão norte-irlandesa previstos no plano do Brexit do premiê Boris Johnson.

Ao mesmo tempo, pediu à União Europeia (UE) que se mostre “flexível”.

Entrevistado pela emissora BBC sobre a disposição de Londres a fazer concessões neste último ponto, o ministro do Brexit, Steve Barclay, declarou que Londres pode “discutir” isso.

Barclay afirmou que o princípio de pedir o consentimento da Irlanda do Norte para estes acordos, que estabelecem uma zona de regulação de bens na ilha, é uma “questão-chave”. Disse, contudo, que, “no âmbito das negociações intensivas, podemos olhar isso e discutir”.

Em relação à complexidade das propostas britânicas para evitar o restabelecimento de uma fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte, com uma dissociação dos controles aduaneiros e de regulamentação, “podemos entrar nos detalhes de seu funcionamento operacional”, acrescentou Barclay.

O ministro do Brexit ressaltou que Londres adotou “compromissos” e pediu à União Europeia que demonstre “criatividade” e “flexibilidade” para chegar a um acordo.

“Temos que entrar em negociações intensivas com a Comissão (Europeia). Estamos dispostos a fazer isso, a trabalhar dia e noite”, garantiu o ministro.

Entrevistado no domingo pela BBC, o primeiro-ministro letão, Krisjanis Karins, considerou que a celebração de um acordo “depende inteiramente da vontade de Johnson, porque, do lado europeu, estamos sempre abertos”.

O plano de Johnson consiste em modificar o rejeitado Tratado de Retirada fechado em novembro pela ex-primeira-ministra Theresa May com Bruxelas: como manter aberta a fronteira entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, país-membro da UE.


O acordo de May, que os líderes europeus chamaram de “melhor possível, único possível”, foi rejeitado três vezes pelos deputados britânicos.

A nova proposta não é muito diferente das primeiras versões do Tratado de Retirada: a Irlanda do Norte permaneceria no mercado único europeu no que diz respeito às mercadorias, ao contrário do restante do país. E todo Reino Unido sairia da união alfandegária europeia para poder negociar acordos comerciais com outros países.

A ideia esbarra, porém, nos mesmos obstáculos: as críticas de Bruxelas e a rejeição da oposição britânica.

As complexas negociações sobre o Brexit entre britânicos e europeus serão retomadas nesta segunda-feira (7).


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