Por uma hora, no início da tarde deste sábado, 24, o The National fez dos seus arranjos contidos um estrondo. Silenciosamente, a banda de Ohio, erguida no Brooklyn, em Nova York, despedaça qualquer pedaço inteiro que o público tem ali, escondido, protegido.

Porque o The National ataca às escuras. Com poucas luzes no palco e nos seus integrantes, a banda atinge pela profundidade assustadora com um dos versos cantados ali. Com pouco, a banda alcança locais profundos.

Com uma estética diferente daquela surgida do início do revival do garage rock, no final dos anos 1990, inicio dos anos 2000, com uma tendência ao “menos”, o grupo construiu uma reputações invejável. Se enquadram naquela categoria das “bandas que talvez você não conheça, mas deveria”. Não que sejam obscuros, mas os The National não são massivos. Eles habitam um outro espaço, muito mais íntimo.

Banda com integrantes que passaram dos 40 anos e se aproximam do meio século de vida, o National é contemplativo. Seus versos esmiuçam, diante da maturidade adquirida, as questões que afetam as mentes e corações fracas. São separações, desastres amorosos, rotinas broxantes. Mas também não falam apenas sobre o “nós”. A poesia da banda averigua o “eu”, a partir de uma visão muito particular e pessimista de Matt Berninger, o vocalista e letrista do grupo.

Para ele, a existência é insignificante. Ele, existencialista que é, questiona a própria importância, se coloca numa posição de questionar qual é seu lugar na vida de alguém.

Talvez a escalação do The National, no palco principal do Lollapalooza, não faça sentido, se considerarmos que o Pearl Jam chegaria no mesmo espaço, pouco tempo depois. Mas a visão de Berninger e companhia com relação aos relacionamentos, o amor e o desamor, na meia-idade, são reveladoras. Amores imperfeitos são, como eles cantam, reais. Por isso emocional, até quem não quer algo com isso.