Poucos setores foram tão abalados pela pandemia como o mercado cultural. Por uma razão básica: a cultura depende diretamente da interação humana, o que pressupõe a convivência física entre as pessoas. Não se trata apenas da diferença entre um show ao vivo ou um simulacro realizado pela internet, como vimos tantas vezes ao longo dos últimos dois anos: é a própria troca de energia entre os músicos e a plateia que torna uma apresentação em uma experiência única e incomparável. Cantar um refrão junto com milhares de pessoas exerce um poder indescritível sobre a psique humana.

A volta do festival Lollapalooza ao Brasil, depois de diversos adiamentos, é uma dádiva. Há tantos pontos positivos que fica até difícil elencá-los. O benefício econômico, por exemplo, é indiscutível: segundo levantamento da SPTuris, os três dias de evento reúnem um público de 300 mil pessoas e movimentam R$ 100 milhões na economia paulistana. A cidade recebe turistas de todo o País, que gastam cerca de R$ 1.659 e permanecem 2,3 dias na cidade de São Paulo, em média.

Além da injeção direta de dinheiro, há a tão importante geração de empregos. Segundo a empresa Time for Fun, organizadora do festival, cerca de nove mil pessoas trabalham para a realização do Lollapalooza, o que inclui as equipes de montagem da infraestrutura, limpeza, segurança, alimentação e diversas áreas específicas do showbiz – de fotógrafos a roadies, aqueles profissionais que atuam nos palcos e diretamente com os artistas. Para entender a importância de um evento como esse, é bom lembrar o quanto essa quantidade enorme de pessoas passou dificuldades durante a pandemia.

Há ainda a questão artística, não menos importante. Do ponto de vista da felicidade e do prazer pessoal, presenciar um festival como o Lollapalooza traz um benefício que não pode ser negado. Seus quatro palcos reunirão 70 shows, de grandes nomes internacionais como Foo Fighters e The Strokes a novos artistas brasileiros, como Terno-Rei e Marina Sena. São 100 mil pessoas por dia, curtindo juntas, de todas as idades e orientações sexuais, reunidas para celebrar a arte, a música, a vida.

A diversidade do Lolla é uma prova vital de um processo possível de tolerância, mesmo em um Brasil acuado constantemente pelas ameaças do autoritarismo. O Lollapalooza é uma prova de que o Brasil pode dar certo – basta que o público do festival se registre e vote de maneira consciente. Já conseguimos dar um passo importante para tornar a covid-19 uma triste lembrança do passado, mas ainda falta o mais importante: livrar o País do vírus do bolsonarismo e reconstruir esse Brasil desafinado e fora do tom que temos hoje.