Pobre logística. Ela foi desmoralizada de tal forma pelo antiministro Eduardo Pazuello, suposto especialista no assunto, que dentro do próprio governo começam a culpá-la por fracassos variados.

Neste domingo, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) atribuiu a “problemas logísticos diversos” o fato de centenas de estudantes de todo o país terem sido impedidos de realizar a prova do Enem.

Esse é um exemplo rematado de explicação que não explica – e que transfere a um ente abstrato, a Dona Logística, responsabilidades que são de funcionários públicos (o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e o presidente do Inep, Alexandre Lopes).

A história, para variar, é revoltante. Em várias localidades, a organização do Enem alocou muito mais alunos nas salas de prova do que havia prometido e seria aceitável, dadas as limitações sanitárias impostas pela pandemia. Prevendo sanções judiciais, orientou seus fiscais, na calada da noite, a barrar candidatos na porta da sala de aula.

Na maioria dos casos, os estudantes que foram chutados de volta para casa só deixaram seus nomes numa lista improvisada. Não receberam um documento para atestar sua presença e orientá-los. Depois de sofrer a ansiedade da preparação para o exame em um ano atípico, tiveram de engolir mais essa. E agora são consolados com o anúncio de que poderão fazer a prova em fevereiro. É mesmo?

“Problema de logística” é pneu furado. O que aconteceu no Enem tem outro nome: incompetência, com pitadas de má fé.

O Inep apinhou as salas de exame, talvez partindo de premissas erradas sobre abstenção, não criou um plano de contingência e desrespeitou os candidatos atingidos por seus erros.

O mesmo vale para toda a novela das vacinas. Do começo ao fim, o caso é de incompetência. Com pitadas de psicopatia, dada toda a retórica negacionista de  Bolsonaro e sua trupe.

Fiquemos no capítulo mais recente, o anúncio de que vacinas seriam trazidas da Índia num avião enfeitado. A data inicialmente alardeada para chegada dos imunizantes foi a desta segunda-feira. Fui ver o que diz hoje a imprensa indiana sobre o assunto. Segundo reportagem no jornal Times of India, o Brasil deve receber os dois milhões de doses que encomendou depois que vizinhos do país asiático, como Bangladesh, Nepal e Afeganistão, forem agraciados pela “diplomacia da vacina”.

As vacinas devem ser enviadas àquelas nações dentro de duas ou três semanas (“a couple of weeks”). Para o Brasil, só depois disso. Se for possível confiar na logística.