Quase toda questão política relevante pode ser resumida numa disputa intelectual entre Locke e Rousseau. É o que argumenta Jonah Goldberg em Suicide of the West, seu novo livro. Cada um dos filósofos defendeu modelos diametralmente opostos. Um foi a maior influência na Revolução Americana, o outro na Francesa.

Locke acreditava na soberania do indivíduo e que nós somos “capitães de nós mesmos”, enquanto Rousseau argumentava que o grupo era mais importante do que o indivíduo e que a “vontade geral” era superior à consciência solitária. Para Locke, o homem é um pecador na origem, enquanto Rousseau falava no “bom selvagem”, ignorando que a maldade reside em nós, independente do sistema político.

Nossos direitos vêm de Deus, não do governo, segundo Locke, enquanto Rousseau pensava que abandonamos nossos direitos individuais em troca do julgamento do poder soberano. Para Locke, o direito à propriedade e aos frutos do nosso trabalho é o pilar fundamental de uma sociedade livre e justa. Já para Rousseau, a propriedade privada é o grande pecado da civilização, e o “todo” deve administrar a propriedade em prol da comunidade.

Locke acreditava na igualdade perante as leis, mas tolerava ou mesmo celebrava as desigualdades de resultado, de renda, mérito e virtude na sociedade civil. Rousseau achava que a desigualdade econômica era a fonte de todos os males sociais, e um dos papéis mais importantes do governo era evitar uma desigualdade extrema. Locke compreendia que a criatividade humana criava riqueza, e Rousseau estava mais preocupado com dividir à força aquela existente.

Como fica claro, Locke foi um dos fundadores do pensamento liberal moderno, que deposita no indivíduo seu foco, prega governo limitado e reconhece a premissa realista de nossa natureza humana falha. Já Rousseau é o pai do esquerdismo moderno, coletivista, estatizante e “igualitário” nos resultados. Se Locke ajudou a parir os Estados Unidos, nação próspera e livre, Rousseau foi crucial para a sangrenta revolução jacobina, que, apesar do slogan bonito, terminou no Terror da guilhotina e na ditadura de Napoleão.

Nos dias atuais, as grandes disputas políticas continuam seguindo basicamente uma ou outra vertente. O economista liberal Paulo Guedes, cotado para ministro da Fazenda de um eventual governo Bolsonaro, já disse que o encontro desse com o liberalismo é a união entre a ordem e o progresso. Guedes citou justamente Locke e seu foco naquele que seria o dever precípuo do estado: proteger a vida e a propriedade privada. Nada mais liberal. Do outro lado temos os jacobinos petistas, que pregam a igualdade forçada de resultado, o estado como instrumento da “justiça social”, e o coletivismo que asfixia a liberdade individual. É Locke ou Rousseau.

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Os jacobinos petistas pregam a igualdade forçada de
resultado,o estado como instrumento da “justiça social”
e o coletivismo que asfixia a liberdade individual


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