O lobby por armas de fogo não tem limites para o deputado Eduardo Bolsonaro. Ele chefiou uma delegação brasileira que esteve na Ucrânia para realizar palestras e reuniões com empresários da indústria bélica e parlamentares daquele país. Para valorizar o próprio passe, o deputado utilizou as credenciais de “filho do presidente” e “responsável direto pelo orçamento militar”. Ainda que a influência sobre o mandatário seja óbvia, o 03 não tem nenhuma prerrogativa que o qualifique para se responsabilizar pelas verbas do Ministério da Defesa. Entusiasta dos armamentos, o deputado também não tem qualificação para “avaliar armas”. Eduardo é escrivão licenciado da Polícia Federal.

O presidente do parlamento Ucraniano, Dmytro Razumkov, recebeu o deputado brasileiro e ressaltou a experiência adquirida nos últimos anos de guerra para aprimorar a tecnologia na construção de armas. Eduardo visitou as empresas ucranianas Antonov, Luch e Arsenal e pôde conhecer as novidades bélicas em artefatos domésticos. A impressão deixada pelo filho do presidente é que ele tem carta branca para seguir com as tratativas para a aquisição de armamentos. O ex-secretário nacional de segurança e coronel reformado, José Vicente, pensa que o lobby do deputado é mais uma bravata, já que a Ucrânia não é uma referência no fornecimento internacional de armas. “É uma briga de gente grande, especialmente de Estados Unidos, Rússia, França e Inglaterra. Lobby não faz sentido”. Vicente diz que a compra de armas para as Forças Armadas passa por um rígido processo de análise técnica e licitação internacional, que dificulta muito qualquer iniciativa paralela. Qualquer coisa fora desse ambiente estaria violando os trâmites legais.

GUERRA A Ucrânia convive com conflitos bélicos frequentes e investe em armamento pesado para ataque em massa (Crédito:Governo Ucrânia)

Negócios suspeitos

A atividade de lobista a favor das armas exercida por Eduardo também está sendo questionada no Congresso. A pedido do senador Jean Paul Prates (PT-RN), o Ministério da Defesa terá que explicar a parceria da empresa Imbel com a Sig Sauer. A Imbel é uma estatal brasileira. Por sua vez, a Sig Sauer é uma empresa americana e foi autorizada a produzir suas pistolas na estatal. A questão levantada pelo parlamentar refere-se à atuação do 03 no negócio. “Qual foi a influência do deputado Eduardo Bolsonaro, acusado de defender os interesses da empresa norte-americana, nessa parceria?”, escreveu Prates no requerimento. À ISTOÉ, o senador disse que é necessário rastrear as facilidades criadas pelo governo para dar acesso às armas. “Não cabe a um deputado federal e muito menos ao filho de um presidente intermediar negócios. Isso por si só já é bastante suspeito”, afirmou Prates. O senador pensa que é possível puxar o fio da meada nas contratações de armas e identificar as associações com empresas estrangeiras a partir da investigação do filho do presidente.

DESCONTROLE Manifestação pró-armas em Brasília reuniu apoiadores do presidente que querem menos controle do uso e porte (Crédito:Divulgação)

O Senado pediu que o Ministério da Defesa explique qual a atuação de Eduardo Bolsonaro na mediação da estatal Imbel com a empresa Sig Sauer

A narrativa do uso de armas é um dos mais importantes fundamentos da base bolsonarista. Na sexta-feira, 9, uma manifestação em Brasília reuniu os seguidores do presidente, que caminharam até a Esplanada dos Ministérios. Bolsonaro já publicou mais de 30 iniciativas para facilitar o acesso às armas, mas seus discípulos acham pouco e clamam por maior flexibilização da posse e porte. Além de Eduardo, outros políticos bolsonaristas estiveram no ato como a deputada Carla Zambelli, o Major Vitor Hugo e o presidente do PTB, Roberto Jefferson. O presidente utiliza esses eventos como contraposição à queda de popularidade que vem enfrentando. Tanto que na segunda-feira, 12, ele reforçou o discurso do ato e disse que vai expedir três novas portarias do Exército. Depois da eleição do ex-capitão, o número de registros de novas armas triplicou: só em 2020 houve o cadastro de mais de 177 mil unidades. Cientistas políticos avaliam que a ideologia armamentista do presidente pode transformar o Brasil numa nova Venezuela, onde milícias se confundem com forças regulares do governo.