Para além das doações de alimentos e roupas, Cecilia Picún pensou que livros poderiam ajudar crianças refugiadas da Ucrânia a desviar seus pensamentos dos horrores da guerra. O prazer da leitura está exatamente em mergulhar nas histórias, como um ator que se desloca em um filme que se desenrola em sua mente, longe das preocupações diárias. E essa iniciativa da dona do Librerío de la Plata, que fica em Sabadell, município da Catalunha, na Espanha, começa quando ela teve a ideia de enviar obras infanto-juvenis a casas, abrigos e hospitais com refugiados ucranianos. Mas, claro, haveria a barreira da língua. Por isso, Cecilia pediu ajuda a Cristina Aliagas, especialista em literatura e cultura infantis da Universidade Autônoma de Barcelona, para pensarem numa maneira de as histórias serem entendidas pelas crianças.

As duas concluíram que teriam de ser livros sem texto, apenas com imagens. Ou “livros do silêncio”, como são conhecidos, de acordo com explicação que Cristina deu ao jornal La Vanguardia. Entrando em contato com editoras para colocar o projeto em pé, “a resposta foi imediata”, como contou. Chegaram voluntárias como Mariuca Gómez, que colocou a mensagem em ilustração para um cartaz, e mesmo uma tradutora, como Anastassia, aluna ucraniana de Cristina, para passar uma ideia geral aos pequenos leitores refugiados sobre as histórias de cada livro contadas apenas por meio de imagens.
Crianças que chegaram a Sabadell e também a Guissona e San Quirze, já receberam esses livros “mudos”, assim como outras 30 que estão recebendo tratamento no Hospital Sant Joan de Deu. Duas caixas foram enviadas à Polônia e segue o trabalho de recebimento das obras de editoras a serem distribuídas.

Com os livros, seguem desenhos recolhidos de escolas da região por Mari Carme, professora da Escola Catalunya de Sabadell, que conta: muitas crianças locais, preocupadas com o sofrimento daquelas que chegam da guerra, se inscreveram para participar. Dentro de cada livro ainda segue um desenho de presente.

Se os Titãs já lembravam que “a gente não quer só comida; quer comida, diversão e arte”, iniciativas como a de Cecilia, Cristina, Mariuca, Anastassia e Mari alimentam o espírito das crianças refugiadas. E o nosso também.