Muitos antes de Pelé, Garrincha e Didi levarem a seleção brasileira à conquista da primeira Copa do Mundo, em 1958, um outro brasileiro havia erguido a taça Jules Rimet. Porém foi por outro país. Em 1934, um ponta-direita nascido em São Paulo e revelado pela Portuguesa chamado Amphilóquio Guarisi Marques, o Filó, ajudou a levar a Itália ao primeiro dos seus quatro títulos mundiais. Pouco conhecida no Brasil, a história dele vai virar um livro em breve.

Quem passou os últimos cinco anos em pesquisas sobre Filó é o diretor do museu da Portuguesa, Alberto Carvalho Miranda. Buscas em documentos, jornais antigos e contatos até na Itália têm ajudado no trabalho de levantar informações e de futuramente terminar o livro intitulado A estrela rubro-verde que brilhou no universo da bola. O material terá como destaque principal mostrar o início da carreira do jogador na Portuguesa e ascensão rumo ao título da Copa de 1934. O objetivo é concluir a redação do livro no ano que vem.

“A ideia do livro é mostrar que o Filó foi a primeira joia que a Portuguesa revelou para o futebol. Ele foi um jogador muito importante na sua época e foi o primeiro brasileiro a ganhar uma Copa”, disse Miranda ao Estadão. O pai de Filó, Manuel Augusto Marques, foi o segundo presidente da história da Portuguesa e responsável por levar o filho para o clube. Porém, foi a cidadania italiana herdada da mãe que abriu as portas do ponta-direita para a Europa.

Nascido em 1905, Filó jogou na Portuguesa de 1922 até 1924. Depois seguiu para o Paulistano, onde se tornou amigo de um dos grandes craques da época, Arthur Friedenreich, e foi tricampeão paulista. A qualidade no jogo e a velocidade de um jogador franzino (tinha 1,66 metro) levaram o ponta a ter uma passagem pelo Corinthians e depois a se aventurar em 1931 no país natal da mãe. Em Roma, vestiu a camisa da Lazio por seis anos.

Na Itália ele passou ser chamado como Guarisi e ganhou espaço na seleção do país. Apesar de ser sede da Copa de 1934, a equipe italiana precisou disputar uma partida eliminatória contra a Grécia e o ponta marcou um dos gols da vitória decisiva por 4 a 0. Quando o Mundial começou, Filó foi titular na estreia, diante dos Estados Unidos, e depois passou as partidas seguintes no banco de reservas. A Itália ficou com a taça ao bater a Checoslováquia na final.

O título da Copa do Mundo fez o jogador permanecer na Europa até 1937. Aos 32 anos, voltou para uma nova passagem pelo Corinthians e ainda encerrou a carreira no Palmeiras, à época chamado de Palestra Itália. Filó foi campeão paulista por essas duas equipes e se despediu do futebol profissional em 1940, pouco depois de conquistar o Estadual pelo clube alviverde.

“Quando ele volta da Itália para o Brasil, estava muito castigado fisicamente e estava com muitas lesões. Em muitos jogos ele era desfalque dos times”, contou Miranda. Apesar do intenso trabalho de pesquisa, o autor do livro afirma que há poucas informações sobre Filó. O campeão mundial com a Itália morreu em 1974, mas não há detalhes sobre filhos, netos ou bisnetos. O único contato da Portuguesa com parentes de Filó é de uma sobrinha, já com idade avançada.

Arquivos de jornais e fontes pesquisadas por Miranda mostram que Filó morou em São Paulo até o fim da vida. As únicas informações são de que viajou à Itália algumas vezes já como aposentado para receber premiações pelo título de campeão do mundo e de que houve na capital paulista nos anos 1980 um torneio de futebol amador com o nome de Guarisi. No restante, caberá ao livro o trabalho de resguardar uma trajetória vitoriosa, mas um tanto esquecida no tempo.