Coluna: Guilherme Amado, do PlatôBR

Carioca, Amado passou por várias publicações, como Correio Braziliense, O Globo, Veja, Época, Extra e Metrópoles. Em 2022, ele publicou o livro “Sem máscara — o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos” (Companhia das Letras).

Livro revela bastidores da Globo na cobertura da eleição e da morte de Tancredo

Da euforia da vitória à tragédia, livro mostra que Globo fez jornalismo em tom de novela

Gervásio Baptista/Agência Brasil
Foto: Gervásio Baptista/Agência Brasil

Em busca de se reabilitar depois de uma catastrófica e omissa cobertura das Diretas Já, a TV Globo mergulhou na campanha e na eleição de Tancredo Neves com toda a força. Depois, na agonia de sua internação, fez o jornalismo ganhar ares de novela. Os bastidores desses dois momentos, 40 anos atrás, abrem “A Globo — Concorrência (1985-1988)”, do jornalista Ernesto Rodrigues, segundo volume da trilogia que conta a história da emissora.

Tancredo recebeu 480 votos no Congresso Nacional, em 15 de janeiro de 1985, contra 180 de Paulo Maluf. Era a primeira eleição — ainda que indireta — depois de 21 anos de ditadura militar. E a disputa do PMDB de Tancredo e do PDS de Maluf se dava em todos os campos, com o peemedebista servindo como um farol para a democracia.

Mas o que era uma festa cívica tornou-se a primeira e mais angustiante cobertura de uma tragédia política, com a internação de Tancredo Neves a um dia da posse, em 14 de março.

Livro revela bastidores da Globo na cobertura da eleição e da morte de Tancredo

A Globo foi a primeira emissora a dar a notícia da internação e acompanhou o caso com avidez de reportagem e tom de novela.

Rodrigues, que teve uma carreira de 15 anos no comando dos principais programas da emissora, recupera os aflitivos 39 dias de martírio do presidente eleito, que morreu em 21 de abril de 1985.

Apenas anos depois é que começaram a ser elucidados os fatos por trás do que era narrado pela imprensa na época, como a trama urdida pelo entorno de Tancredo para que se ocultasse seu real estado de saúde. O temor era que os militares, ao saberem de sua fragilidade, embananassem o processo eleitoral e o começo da redemocratização.

A Globo liderou o acompanhamento da doença com intensidade inédita, exibindo boletins diários e apostando em um tipo de jornalismo emocional, que, mais do que informar, precisava emocionar ou, quem sabe, confortar, diante da frustração com a morte de quem redemocratizaria o país.

No dia da morte de Tancredo, o Jornal Nacional teve longas quatro horas de duração com direito a Hino Nacional cantado por Fafá de Belém.

O processo obrigou a imprensa a lidar com o inesperado e a traduzir para todos os tipos de público o que significavam palavras e situações difíceis na saúde e na política.

O livro sai pela Autêntica Editora.