Livro reeditado pela 1ª vez em 90 anos aborda feminicídio e machismo nos anos 1930

“A Mulher dos Olhos de Gelo”, de Chrysanthème, ganha resgate pela editora Janela Amarela

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A jornalista e escritora carioca Cecilia Moncorvo Bandeira de Mello Rebello de Vasconcellos, que publicava sob o pseudônimo de Chrysanthème Foto: Divulgação

O assassinato da esposa por um capitão do Exército é a premissa de “A Mulher dos Olhos de Gelo”, de Chrysanthème, pseudônimo da jornalista e escritora carioca Cecilia Moncorvo Bandeira de Mello Rebello de Vasconcellos. Publicada originalmente em 1935, a obra ganha agora sua primeira reedição, 90 anos depois, pela editora Janela Amarela, casa dedicada a recuperar a obra de autoras brasileiras invisibilizadas.

“A Mulher dos Olhos de Gelo” narra o pesar de um marido encarcerado que tenta justificar o ato criminoso culpando a vítima pelo mal-estar do casamento. Na obra, a autora constrói um retrato impactante da sociedade da época, expondo o machismo e a misoginia ainda tão presentes nos dias atuais.

A narrativa se passa na cidade do Rio de Janeiro, então capital do país, durante os anos 1930 — cenário de uma elite conservadora e profundamente patriarcal. Quase 100 anos após sua primeira publicação, a sociedade e a opinião pública ainda tratam casos de assassinato entre cônjuges, sobretudo quando o autor é o marido, com complacência, oferecendo o benefício da dúvida e sustentando a tese do “crime passional”, que desqualifica e silencia as mulheres.

Na trama, o protagonista alega não se lembrar de como cometeu o crime. O mistério é intensificado pelo tom condescendente do relato, que parece buscar a empatia do leitor e o leva a questionar se o ex-militar realmente executou o assassinato.

Com uma escrita afiada e crítica, especialmente em relação ao papel subordinado da mulher na sociedade burguesa da época, Chrysanthème abordou em suas obras temas espinhosos como assédio sexual, adultério, homossexualidade e suicídio.

Suas posições firmes e seu estilo provocador lhe renderam diversos desafetos públicos, entre eles o escritor Lima Barreto e o político Rui Barbosa. Ainda assim, sua ousadia e talento encantaram outras personalidades, como o cronista João do Rio, que a classificava como “legendária e desconcertante”.

Livro reeditado pela 1ª vez em 90 anos aborda feminicídio e machismo nos anos 1930

“A Mulher dos Olhos de Gelo”, de Chrysanthème
Janela Amarela
124 págs.
R$ 43,50