Especialistas do Liverpool colaboraram no desenvolvimento de uma nova ferramenta de inteligência artificial do Google para estudar as melhores táticas a serem seguidas nas cobranças de escanteio, segundo um estudo científico publicado nesta terça-feira (19).

No momento, porém, nenhum jogador do time de Anfield colocou em prática essas recomendações, que um especialista independente estima que ainda devam ser verificadas em campo.

Os escanteios têm a particularidade de ‘congelar’ por alguns momentos o desenrolar de uma partida, que normalmente se caracteriza pela fluidez. Isso permite uma análise dos dados do momento e muitos clubes já estudam possíveis combinações para otimizar seu rendimento.

A DeepMind, subsidiária do Google dedicada à inteligência artificial (IA), revelou na revista Nature Communications uma nova ferramenta de assistência, TacticAI, que deve fornecer sugestões especialmente para as cobranças de escanteio. O estudo incluiu cinco especialistas do Liverpool.

A TacticAI possui combinações ideais para defender um escanteio, incluindo ajustes muito precisos em termos de situação e velocidade de execução.

No estudo, os especialistas analisaram 50 combinações possíveis de escanteios e diante de cada uma delas houve uma escolha às cegas entre uma tática gerada pela inteligência artificial e outra já utilizada nos treinamentos.

Em 90% esses especialistas optaram pela opção proposta pela TacticAI, segundo o estudo. Isso seria uma prova de que a ferramenta de assistência é “capaz de fornecer sugestões úteis e concretas”, disse à AFP Petar Velickovic, pesquisador da DeepMind e coautor do estudo.

– “Ingrediente secreto” –

O modelo de IA é baseado em dados “bastante rudimentares” de posições, velocidade, peso e altura dos jogadores da Premier League inglesa, explica ele.

Normalmente, os modelos de IA são treinados usando conjuntos de dados que chegam a bilhões. Mas no caso de escanteios são cobrados apenas algo em torno de 10 por jogo, e são disputados cerca de cem jogos em uma temporada.

A TacticAI usa um “ingrediente secreto”, segundo Velickovic: o aprendizado geométrico profundo, que manipula virtualmente a orientação do campo de futebol para multiplicar o número de dados disponíveis.

O sistema deverá ser adaptável a outros momentos do jogo, e também a outros esportes, segundo os pesquisadores.

O Liverpool já colaborou em outros projetos com a DeepMind, que originalmente era uma jovem empresa britânica antes de ser comprada pelo gigante Google. O cofundador da DeepMind, Demis Hassabis, também é “um grande torcedor” do lendário clube inglês, de acordo com o primeiro autor do estudo, Zhe Wang.

“Provavelmente veremos os clubes utilizarem técnicas semelhantes”, acredita Velickovic.

Para Andy Harland, professor de Tecnologia Esportiva da Universidade Britânica de Loughborough, a utilidade da TacticAI durante uma partida apresenta mais dúvidas.

“O seu valor só poderá ser verificado quando é utilizado nos jogos”, disse à AFP, apontando um efeito adicional a levar em conta. “Se todos usarem a sua própria inteligência artificial”, os efeitos poderão aniquilar-se mutuamente e se neutralizarem.

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