Liu Xiaobo, Prêmio Nobel da Paz 2010 que morreu nesta quinta-feira (13) em consequência de um câncer de fígado, é um célebre intelectual e veterano da dissidência chinesa, preso por suas convicções democráticas.

Integrante do movimento democrático da Praça de Tiananmen, inimigo declarado do regime comunista, o escritor de 61 anos foi colocado em liberdade condicional em maio após ter sido diagnosticado com câncer em fase terminal depois de oito anos na prisão.

Foi em sua cela, onde cumpria sua pena por subversão, que Lui Xiaobo soube em 2010 ser o vencedor do Prêmio Nobel da Paz. A premiação foi entregue de maneira simbólica, em sua ausência, no dia 10 de dezembro daquele ano em Oslo. O escritor foi representado na cerimônia por uma cadeira vazia.

Liu Xiaobo é o primeiro Nobel da Paz a morrer privado da liberdade desde o pacifista alemão Carl von Ossietzky, que faleceu em 1938 em um hospital quando estava detido pelos nazistas.

Nas poucas fotografias tiradas durante momentos de liberdade – sempre vigiados -, ele já aparecia bastante magro, com óculos de armação metálica e cabelo curto.

Em 1989, ao regressar dos Estados Unidos, onde deu aulas na Universidade de Columbia, em Nova York, este professor da Universidade Normal de Pequim, muito crítico em relação aos valores tradicionais chineses sobre a obediência ao poder, participou do movimento democrático da praça de Tiananmen, desencadeado pelos estudantes.

Frente ao endurecimento do regime, iniciou uma greve de fome na célebre esplanada de Pequim, na companhia do cantor Hou Dejian e de outros dois intelectuais, Zhou Duo e Gao Xin.

“Preferimos ter dez diabos que se controlam mutuamente do que um anjo que dispõe do poder absoluto”, escreveram em uma declaração pública, na qual também criticam alguns estudantes que esqueceram os ideais democráticos de sua luta.

Na madrugada de 4 de junho, quando o exército tentou dispersar os manifestantes que ocupavam a Praça, o grupo se oferece para fazer a mediação e obter uma retirada pacífica.

Detido depois da violenta repressão ao movimento, o opositor passou um ano e meio na prisão sem jamais ter sido condenado.

Teve problemas de novo como regime e foi enviado para um campo de “reeducação pelo trabalho” entre 1996 e 1999, por ter reclamado uma reforma política e a libertação das pessoas ainda presas por participação no movimento de junho de 1989.

Excluído pela Universidade, tornou-se integrante do Centro Independente Pen China, um grupo de escritores. Manteve contato íntimo com o mundo intelectual. Censurado na China, seus livros são publicados em Hong Kong.

Por ocasião do 60º aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, foi um dos autores da “Carta 2008”, texto que pede respeito aos Direitos Humanos e à liberdade de expressão e a convocação de eleições num “país livre, democrático e constitucional”.

Isso o fez ser condenado, no dia de Natal de 2009, a 11 anos de prisão por “subversão do poder do Estado”.

Em uma de suas últimas entrevistas, Liu, casado e sem filhos, assegurou que mantinha a esperança. “Vamos avançar muito lentamente, mas não será fácil conter as demandas de liberdade tanto das pessoas comuns como dos membros do Partido (Comunista)”, afirmou Liu.

A “Carta 08” se inspirava na “Carta 77”, manifesto assinado em 1977 por 240 intelectuais, incluindo Havel, pela democratização da Tchecoslováquia comunista.

A esposa de Liu Xiaobo, Liu Xia, artista que se tornou militante dos Direitos Humanos, foi colocada em prisão domiciliar um dia após o anúncio do Nobel, tornando-se outro símbolo da resistência.

Liu Xiaobo foi hospitalizado em Shenyang, na província de Liaoning (noroeste), de onde é originário e onde cumpria sua pena.

O dissidente havia expressado seu desejo de ser transferido e tratado no exterior. Pedido este negado pela China.