Mesmo com a profusão de telas e canais de streaming, a literatura em livro impresso persiste. Jovens nascidos em meados dos anos 2000 agora movimentam o mercado literário com suas resenhas e opiniões no TikTok — a rede social conhecida por seus vídeos curtos e coreografias de dança. Para entrar na onda, basta acessar a hashtag #booktok ou #booktokbr para começar a se divertir, ou, quem sabe, descobrir o que passa na cabeça de uma juventude ávida por boas histórias.

Se no passado a máxima era “não julgue um livro pela capa”, as coisas mudaram um pouco: quanto mais bonitas e trabalhadas forem as ilustrações, mais populares são os livros. A temática também é moderna: diversidade, fantasia e aventura geralmente atreladas a um bom “Plot Twist” — uma mudança radical no enredo – são as mais populares da rede. A booktoker Maju Alvez é uma prolífica produtora de conteúdo literário e como ela trabalha em uma publicação voltada ao mercado editorial, fala como profissional e dita tendência aos 27 anos. “Faço parcerias com editoras, mas posto livros que eu gosto e compro. Também faço muitos vídeos em livrarias de bairro”, diz.

Maju explica que o Booktok é uma herança do que já acontecia no YouTube, mas agora de forma muito mais rápida e interativa. Perguntada se é possível falar de uma obra em apenas um minuto, ela diz um sonoro “sim”. Você pode fazer um vídeo mostrando o livro, dizendo que irá começar a leitura, outro sobre o que está achando e até contar a história como se você fosse uma boa fofoca. “Você começa contando ‘eu tenho uma vizinha que foi sequestrada’ e entra no livro e quem vê o vídeo só descobre o título no final”, diz. Para encontrar casos assim é preciso usar a hashtag #fofocaliteraria. São 111 milhões de citações usando a marcação.

A fofoca sobre “O estrangeiro”, de Albert Camus, tem 893 mil visualizações e foi feita pelo perfil @patzzic, do escritor e estudante de medicina Patrick Torres, um dos mais populares da rede, com 269 mil seguidores. Se o TikTok influencia nas vendas, ainda não se sabe com exatidão, mas segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) a partir de pesquisa feita pela Nielsen BookScan, entre janeiro e setembro deste ano foram vendidos 36,1 milhões de exemplares de livros, um aumento de 39% em comparação ao mesmo período de 2020. Novos tempos?