Paulinho da Viola não precisa de um disco novo para subir ao palco. É assim há 20 anos. O último álbum conceitual com sambas inéditos foi Bebadosamba, de 1996. Sua relação com aquele espaço e com a própria obra é outra. Ao contrário de artistas que se abastecem do desafio eterno, que justificam suas existências na constante reinvenção, Paulinho ergue-se na própria história. Quando diz que não vive no passado, mas que o passado vive em seu ser, está falando também, acredite, de seu repertório, mesmo sendo ele algo produzido sobretudo há 30, 40 anos.

Músicas como 14 Anos, Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida, Sinal Fechado, Timoneiro, Coração Leviano, Pecado Capital e Tudo se Transformou só viveriam no passado se não tivessem força para serem cantadas pelos próximos 250 anos. Ao criá-las, Paulinho da Viola quebrou a barreira do tempo e se tornou imortal como seus mestres. Uma mágica que saiu de moda.

A apresentação terá um formato um pouco mais intimista. Estarão no palco, além da filha cantora Beatriz e do filho violonista João Rabello (Paulinho tem outra filha, também cantora), os músicos Dininho (contrabaixo), Adriano (teclados), Ricardo Costa (bateria), Celsinho (percussão) e Hércules (ritmos).

O Teatro Net, com capacidade de 799 lugares, tem características que valorizam essa proposta do intimismo. O público fica bem próximo ao artista, a acústica é amaciada pela madeira na estrutura do salão e o palco é baixo. É possível ouvir o cantor mesmo quando ele não canta ao microfone.

Paulinho faz sua primeira apresentação no País depois de viver uma experiência interessante na Holanda, onde fez um show acompanhado pela Orquestra Filarmônica de Rotterdam. O espetáculo, pensado em sua homenagem, foi dividido em duas partes: a primeira, com a execução da obra instrumental de Paulinho, e, a segunda, cantada, em que ele tocou e interpretou usando como coro as vozes da própria orquestra.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Paulinho diz que está em conversações com uma gravadora para terminar um álbum que seria o seu próximo de inéditas. Ele diz já ter algumas composições prontas, que poderão até entrar no roteiro dos shows de São Paulo, mas que não tem pressa para terminar. “Vou fazendo aos poucos mesmo.”

Seu estilo é esse. Fernando Faro, o amigo Baixo, morto neste ano, o conhecia bem. Chegou a trancá-lo em uma sala com um violão até que ele terminasse um samba que Faro encomendou para ser usado como trilha sonora de uma novela, Simplesmente Maria. O samba saiu no mesmo dia.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.