O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), reuniu na noite da quarta-feira, 22, o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no mesmo ambiente. Integrantes dos Três Poderes estiveram na residência oficial de Lira para participar de um jantar em homenagem aos 20 anos do ministro Gilmar Mendes no Supremo.

O encontro entre Bolsonaro e Moraes ocorreu quatro dias após o chefe do Executivo voltar a insinuar que o ministro teria descumprido um acordo firmado entre os dois em setembro do ano passado.

O presidente da República já havia tocado no assunto em 7 de junho, mas foi desmentido pelo ex-presidente Michel Temer, que intermediou a ligação entre os dois, na esteira das tensões causadas pelos atos antidemocráticos de 7 de setembro de 2021.

Temer disse, em nota oficial, que não houve qualquer “condicionante” na conversa entre Bolsonaro e Moraes. Nos atos de 7 de setembro, Bolsonaro declarou à multidão presente na Avenida Paulista, em São Paulo, que não cumpriria mais decisões de Moraes. A fala gerou grande tensão política e partidos chegaram a ensaiar assinaturas para um processo de impeachment contra o presidente. Ele teve de recuar e aceitou ajuda de Temer para redigir uma “carta à nação” com trégua, já expirada, nos ataques ao Judiciário.

Durante o jantar da quarta-feira, o ministro Ricardo Lewandowski, também do STF, fez um discurso em defesa da democracia, segundo apurou o Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Bolsonaro costuma atacar magistrados da Corte e questionar, sem apresentar provas, a segurança das urnas eletrônicas. Alexandre de Moraes será presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições de outubro, quando Bolsonaro disputará um segundo mandato no comando do Palácio do Planalto.

Em 19 de maio, Bolsonaro cumprimentou Moraes, com aperto de mão e “tapinhas nas costas”, em solenidade de posse de novos ministros no Tribunal Superior do Trabalho (TST). O cumprimento foi rápido e com feições de desconforto. Na ocasião, o chefe do Executivo ignorou a plateia presente no local e deixou de aplaudir o ministro do STF.

No jantar de homenagem a Mendes também estiveram presentes o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e os ministros do STF Kassio Nunes Marques e André Mendonça. Do governo, além de Bolsonaro, participaram os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Anderson Torres (Justiça).

O ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, cotado para concorrer como vice de Bolsonaro, o acompanhou. Da oposição, participaram deputados como Reginaldo Lopes (MG), líder do PT na Câmara.

O jantar, que não constou da agenda oficial do chefe do Executivo, ocorreu em meio à ofensiva do governo sobre a Petrobras. Como mostrou o Broadcast Político, a estratégia envolve ameaçar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e afrouxar a Lei das  Estatais para alterar a política de preços com paridade internacional da estatal, criticada por Bolsonaro.

O jantar ocorreu, ainda, no mesmo dia em que o governo sofreu desgaste com a prisão preventiva do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro no âmbito das investigações sobre o chamado “gabinete paralelo” de pastores no MEC, que controlavam a distribuição de verbas a prefeituras.

O escândalo, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo, levou à queda de Ribeiro do comando do Ministério, em 28 de março. O esquema envolvia a compra de bíblias em que apareciam fotos do ministro e até mesmo pedidos de pagamento de propina em ouro.