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Quando o ponta Lucarelli errou o terceiro ataque consecutivo no jogo decisivo contra a França, o último da fase classificatória do vôlei masculino, Lipe partiu em fúria para cima do companheiro. Os olhos esbugalhados de Lucarelli entregavam a surpresa pela cobrança. Não que ele não esteja acostumado com o estilo agressivo de Lipe. Mas, nos quatro jogos anteriores, o Brasil jogou bem contra Estados Unidos e Itália, mas saiu derrotado.

O diagnóstico é que faltou vibração. Ou, nas palavras de Bernardinho, sentir mais a partida. Ninguém melhor que Lipe, que tem energia de sobra para distribuir, para dar um chacoalhão em todo mundo. Caiu uma bola adversária? Incentivos e muitos “vamos-lá”. Foi ponto do Brasil? Abraços e cumprimentos efusivos. Se a torcida também esteve chocha nos jogos anteriores, contra a França Lipe ajudou a acendê-la.

“Essa agressividade vai acontecer e tem de acontecer. Eles sabem que vou muito agressivo, e não é por mal, é só o jeito que reajo na situação”, diz ele. “O Lucarelli perdeu três bolas seguidas de contra-ataque. Era um momento de acordá-lo e falar chega. Essa energia faz o cara acordar. Sai muito forte de mim, não consigo chegar e passar a mão. Mas não é com maldade.”

Quem lê ou ouve as palavras de Lipe imagina um atleta agressivo, ao estilo bad boy. Ao contrário. O ponta da seleção de vôlei é descrito como companheiro, atencioso e querido. É respeitado e considerado “de grupo”: está sempre pronto para ajudar, seja na reserva ou em quadra. Nos treinos, por exemplo, ele está treinando num nível altíssimo de intensidade, porém nunca reclamou sua posição ou mandou indiretas para o técnico Bernardinho.

“Sempre me preparo para todas as situações, para jogar ou não. Só no aquecimento de rede, antes de ir para o saque, o Rubinho (assistente técnico) disse que eu iria começar”, afirma ele. “Vínhamos jogando em um alto nível contra Itália e EUA, mas errando muitas bolas, principalmente de ataques, que é o forte do Brasil. Conseguimos reduzir esses erros e o coração foi importante demais. A gente não queria ir embora, não queria dar esse gosto amargo para o povo brasileiro.”

A partida contra a Argentina, pelas quartas-de-final, é de alto risco. Primeira colocada do grupo B, a seleção argentina vem surpreendendo pela eficiência e pela qualidade, principalmente do ponteiro Facundo Conte, apontado por todos como o diferencial da equipe e o jogador a ser marcado. Se Lipe estiver em quadra, a bola vai demorar a cair, nem que seja no grito.