Morreu nesta segunda-feira, 21, o Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, aos 88 anos. Ele ocupou o cargo máximo na Igreja Católica por 12 anos. A morte do pontífice foi alvo de lamentação por uma séria de figuras mundiais, como Milei e Trump. Veja abaixo a repercussão.
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O presidente da Argentina, Javier Milei, escreveu nesta segunda-feira, 21, em post na rede X que recebeu com “profunda dor” a notícia da morte do papa Francisco.
“Apesar de diferenças que hoje parecem menores, ter podido conhecê-lo em sua bondade e sabedoria foi uma verdadeira honra para mim. Como Presidente, como argentino e, fundamentalmente, como um homem de fé, despeço-me do Santo Padre e me solidarizo com todos que hoje recebem essa triste notícia.”
Já o presidente da França, Emmanuel Macron, lamentou na mesma rede pelo falecimento do pontífice.
“De Buenos Aires a Roma, o Papa Francisco queria que a Igreja levasse alegria e esperança aos mais pobres. Que unisse os seres humanos entre si e com a natureza. Que essa esperança possa ressuscitar perpetuamente além dele.”
O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, declarou nesta segunda-feira que seu “coração está com os milhões de cristãos” do mundo após a morte do papa Francisco aos 88 anos, um dia após reunir-se com o pontífice no Vaticano.
“Fiquei feliz de tê-lo visto ontem, embora ele estivesse obviamente muito doente”
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também prestou homenagens e descreveu o papa como um “líder sábio” e um “defensor constante dos mais altos valores do humanismo e da justiça”.
“Ao longo de seu pontificado, contribuiu ativamente para o desenvolvimento do diálogo entre as Igrejas Ortodoxa russa e Católica romana, e para uma interação construtiva entre Rússia e a Santa Sé”.
Trajetória
Integrante de uma família de imigrantes italianos, Bergoglio nasceu em Buenos Aires, na Argentina, em 17 de dezembro de 1936. Depois de passar a infância no bairro de Flores e se apaixonar pelo San Lorenzo, clube de futebol pelo qual ainda torce, ele ingressou no seminário de Villa Devoto com o objetivo de se tornar padre, aos 21 anos.
Em 1969, Bergoglio foi ordenado sacerdote. O pontífice se dividia entre a dedicação ao seminário e à Academia — estudou teologia no Colégio Máximo San José e se tornou doutor no mesmo ofício em Freiburg, na Alemanha.
No período em que desenvolveu sua tese na Europa, foi diretor espiritual e confessor na igreja da Companhia de Córdoba. O papa João Paulo II o nomeou bispo titular de Buenos Aires em 1992.
Seis anos mais tarde, tornou-se arcebispo e, em outubro de 2001, foi relator -geral da 10ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. No mesmo ano, foi nomeado cardeal por João Paulo II, condição de alto dignitário da igreja católica, que o credenciou a, entre outras funções, participar da eleição de novos pontífices e liderar missões religiosas.
Ortodoxo na discussão de temas como a homossexualidade, o aborto e os métodos contraceptivos na Argentina, que registrou progresso no campo dos costumes sob as gestões de Néstor e Christina Kirchner, Bergoglio assumiu um discurso de defesa da Justiça social e flexibilização quanto a outras pautas conforme ascendeu na hierarquia católica. Ao ser nomeado para o cardinalato, sugeriu que os colegas argentinos não fossem ao Vaticano comemorar a nomeação e doassem o dinheiro da viagem para os mais pobres.
Papado
Como cardeal, Francisco liderou comissões da igreja para a América Latina e presidiu a Conferência Episcopal da Argentina até novembro de 2011. No fim do pontificado do alemão Papa Bento XVI, em fevereiro de 2013, credenciou-se para o Conclave em uma condição pouco favorável — com 60 cardeais europeus e apenas 33 da América aptos a votar, o Vaticano nunca havia escolhido um não europeu para liderá-lo.
Mas a América Latina havia superado a Europa no número de católicos e a imprensa internacional reportava que, à luz dessa mudança, a Santa Sé caminhava na direção do ineditismo. A projeção se consolidou: conforme revelou o vaticanista Gerard O’Connell, o argentino foi eleito na quinta votação, com 85 votos, e assumiu a cadeira em 13 de março de 2013.
Em 12 anos à frente da igreja, teve um papado avaliado como progressista, em especial pela instauração de comissões de combate a crimes sexuais, redução da predominância europeia no cardinalato e pela defesa vocal das causas ambientais, Justiça social e refugiados.
Francisco manteve visões conservadoras a respeito de temas como o aborto e o celibato clerical. Por outro lado, nomeou cardeais de regiões sub-representadas no Vaticano e buscou ouvir segmentos progressistas e minoritários da religião ao promover, em 2021, o maior processo de consulta popular da história quando convocou 1,3 bilhão de católicos a se manifestar sobre o futuro da igreja, à revelia de representantes tradicionais.
Na liderança do Estado católico, atuou pela restauração das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos e defendeu repetidamente os refugiados palestinos diante da violência militar promovida por Israel, em oposição a importantes dirigentes católicos.
Em junho de 2024, rezou, nos jardins do Vaticano, pela pacificação do conflito em Gaza: “Os nossos esforços foram em vão. Agora, Senhor, ajuda-nos. Concede-nos a paz, ensina-nos a paz, conduz-nos à paz. Abre os nossos olhos e os nossos corações e dá-nos a coragem de dizer ‘nunca mais’ à guerra. Com a guerra, tudo está destruído”.