A crise migratória parece ter terminado, mas os deslocados são mais numerosos do que nunca, e os chefes de Estado e ministros se reúnem nesta terça e quarta-feiras em Genebra, no primeiro Fórum Mundial sobre Refugiados.

O objetivo é dar um novo impulso ao Pacto da ONU adotado no ano passado.

Apenas um ano após a adoção deste texto em Nova York para dar uma resposta internacional aos movimentos em massa de refugiados, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) convidou líderes, representantes da sociedade civil e de empresas para apresentarem propostas concretas sobre a “distribuição da carga e da responsabilidade” dessas populações.

“A primeira edição deste fórum, coorganizado por Turquia, Alemanha, Costa Rica, Etiópia, Paquistão e Suíça, e que será realizado a cada quatro anos, acontece após uma década mais do que agitada em termos de níveis de deslocamento”, declarou Kelly Clements, alta comissária adjunta do Acnur.

Segundo ela, 71 milhões de pessoas foram deslocadas em 2018, incluindo 26 milhões de refugiados, um recorde.

“O debate não se concentra apenas nos refugiados, mas também nos países que os acolhem e será a ocasião para colocar em prática propostas sobre emprego, educação, energia, ou meio ambiente, diz Clements.

“Seja no caso dos Estados, das organizações internacionais, do setor privado, sentimos a necessidade de dar uma melhor resposta” ao desafio migratório.

O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, afirmou que espera deste encontro, sobretudo, contribuições “financeiras”, uma “assistência material” e anúncios em matéria de reinstalações por parte de alguns países.

A ONU destacou, hoje, o compromisso do setor privado. Cerca de 100 empresas vão participar do evento.

“Cada ação conta. O Fórum promete uma aproximação social completa”, tentando juntar “refugiados e setor privado para encontrar soluções”, declarou Dominique Hyde, do Acnur, em entrevista coletiva.

– A questão turca –

Outro objetivo, diz Céline Schmitt, porta-voz do Acnur na França, é colocar os refugiados de volta aos holofotes.

Embora o momento mais crítico da crise migratória que a Europa experimentou em 2015 tenha terminado, “não devemos esquecer o que está acontecendo no mundo”, alerta.

A participação da Turquia, que abriga o maior número de refugiados do planeta, cerca de três milhões, é altamente antecipada.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que chegou à Suíça como coorganizador, insiste em que, se não receber mais ajuda da comunidade internacional, poderá abrir as portas da Europa para os refugiados.

A Turquia deve falar sobre o “apoio adicional necessário de nós”, diz Kelly Clements.

“Acho que há uma grande preocupação, principalmente pelas crises [como a da Síria] que se prolongam ao longo do tempo. (…) Esperamos não ouvir ameaças sobre uma possível ‘abertura de comportas’ para a Europa”, admite um diplomata europeu.

O Acnur estima que 1,44 milhão de refugiados precisam ser realocados. Segundo a União Europeia, 65.000 refugiados foram restabelecidos na Europa desde 2015.

Os desafios continuam sendo imensos, lembrou a ONG Oxfam nesta segunda: a “responsabilidade” da acolhida dos refugiados “recai, injustamente, sobre alguns dos países mais pobres”.

“Dois milhões de refugiados vulneráveis estão em perigo, ou se mantêm na incerteza, porque vários países se negam a aceitar sua parte de responsabilidade”, completou Danny Sriskandarajah, também da Oxfam.

O Pacto Mundial sobre Refugiados, que também não é vinculativo, compreende quatro objetivos principais: reduzir a pressão sobre os países anfitriões, aumentar a autonomia dos refugiados, gerar soluções visando a países terceiros e favorecer o retorno seguro dos refugiados a seus países de origem.

Neste sentido, Clements destaca que o Acnur “deverá estar disposto a ajudar ainda mais os refugiados e os países anfitriões”.