ROMA, 10 FEV (ANSA) – A Itália relembrou nesta quinta-feira (10), os 75 anos de uma das maiores tragédias do país ligada à sua participação na Segunda Guerra Mundial, o Massacre das Foibe, que matou entre 5 mil e 17 mil italianos. O triste marco na história da nação europeia aconteceu em 1947, dois anos após o fim da 2ª GM. Neste período, a ex-Iugoslávia queria anexar a região italiana do Friulli-Venezia Giulia, no extremo nordeste do país, e todos aqueles que se opunham a isso eram assassinados pelo Exército do marechal Josip Broz Tito, o então premiê da nação eslava. Os opositores eram jogados em buracos formados naturalmente pela ação da água no solo, que eram chamados “foibe” pelos moradores da região, daí o nome do massacre. Inicialmente, as vítimas eram fascistas e anti-comunistas, no entanto, não demorou muito para que civis comuns italianos também fossem executados.   

Além das mortes, milhares de pessoas que não se adaptavam ao novo regime, principalmente de Trieste, da Dalmácia e da Ístria, as últimas duas atualmente na Croácia, foram deportadas pelas Forças Armadas de Tito, o que durou até a década de 1960. A tragédia foi por muitos anos esquecida e ignorada e por muitos continua a se tratar de uma história fantasiosa e que não aconteceu. No entanto, a partir de 2004 foi criado o Dia da Lembrança, quando as vítimas do massacre são lembradas por todo o país. A data foi marcada para o dia 10 de fevereiro. Hoje, uma cerimônia no Palazzo Madama, em Roma, lembrou a data e contou com a presença do presidente da Itália, Sergio Mattarella, do premiê Mario Draghi, da presidente do Senado, Elisabetta Alberti Casellati, do vice-líder da Câmara, Ettore Rosato, entre outros políticos.   

“É um compromisso da civilização preservar e renovar a memória da tragédia dos istrianos, dálmatas e outros italianos que tinham raízes naquelas terras tão ricas em cultura e história e tão manchadas de sangue inocente”, afirmou Mattarella, durante cerimônia do Dia da Lembrança.   

“Os sobreviventes e exilados, juntamente com suas famílias, demoraram a ver reconhecida a verdade de seus sofrimentos. Uma ferida que se somou às outras”, prosseguiu.   

De acordo com o presidente italiano, “a infeliz guerra desejada pelo fascismo e a ocupação nazista foram seguidas, para esses italianos, de hostilidade, repressão, terror, execuções sumárias, agravando a horrível sucessão de crimes contra a humanidade testemunhada pelo século XX”.   

“Crimes que os povos e terras da fronteira leste vivenciaram com dramática intensidade, gerando rastros de ressentimentos e desentendimentos que há muito marcam as relações entre os povos vizinhos”, explicou.   

Por fim, Mattarella enfatizou que “a memória, mesmo a mais dolorosa, mesmo aquela que se origina do mal, pode tornar-se semente de paz e crescimento civil”. “A Europa nascida da paz e do diálogo revivida pela afirmação das democracias abriu e desenvolveu um novo caminho. Essas memórias ganharam respeito, dignidade, escuta. São histórias vividas, advertência e responsabilidade para o futuro”, concluiu.   

Draghi, por sua vez, afirmou que a data “deve ser também uma oportunidade para estreitar os laços com nossos vizinhos” e para “olhar uns para os outros com bondade e respeito”.   

“Não [devemos] fazer das fronteiras um motivo de conflito. E é [preciso] evitar que os erros do passado tornem-se motivo de divisão ou ressentimento”, ressaltou o premiê. (ANSA)